Um estudo internacional, em que participaram dois investigadores da Universidade de Coimbra (UC), desenvolveu equações que preveem e podem ajudar no diagnóstico precoce e mais preciso da diabetes, anunciou esta sexta-feira a instituição de ensino superior conimbricense.
Publicado na Nature Medicine, este estudo internacional contou com a participação de Aristides Machado-Rodrigues, que é investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e de Luísa Macieira, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC).
Numa nota de imprensa enviada à agência Lusa, a UC indica que este artigo científico vem mostrar ainda que a utilização de um único biomarcador no rastreio da diabetes, a glicose em jejum, “subestima o seu impacto na saúde das nossas populações”.
“A diabetes, sendo uma doença crónica, pode causar inúmeras complicações de natureza cardio-metabólica, tanto ao nível das complicações microvasculares como macrovasculares. O diagnóstico precoce pode permitir um tratamento menos invasivo e capaz de evitar o seu desenvolvimento ou agravamento”, destaca.
Segundo Aristides Machado-Rodrigues, atendendo a que ambos os marcadores de rastreio, glicose em jejum e a hemoglobina glicada (HbA1c), são preditores do risco de diversas complicações de saúde e da mortalidade, “a confiança em apenas um biomarcador pode subestimar ou atrasar o diagnóstico da diabetes em algumas populações”.
“Consequentemente, pode aumentar o risco das complicações de natureza metabólica e cardiovascular”, acrescentou o também docente da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEF-UC).
No seu entender, os dados da presente investigação mostram que este assunto é especialmente relevante em países de estatuto socioeconómico baixo e médio, “onde as dificuldades de recursos tornam a glicose em jejum como a metodologia mais comum de diagnóstico”.
“Possivelmente porque a avaliação da hemoglobina glicada nos remete para equipamentos e reagentes mais dispendiosos e, até, porque a normalização do processo laboratorial da HbA1c requer técnicos especializados e nem sempre estão amplamente disponíveis”, sustenta.
Já a investigadora Luísa Macieira chama a atenção para o facto de “cerca de 12% dos participantes terem diagnóstico prévio de diabetes ou este ter ocorrido durante os estudos, demonstrando, assim, a dimensão do problema à escala global com impacto aos mais diversos níveis, desde o individual, ao familiar, social, político e económico entre outros”.
Adicionalmente, constatou-se “uma vez mais, que um índice de massa corporal (IMC) aumentado está ligado ao diagnóstico prévio de diabetes e àqueles que foram diagnosticados com diabetes durante os estudos”.
Os investigadores, que representam a UC neste estudo, dão ainda enfoque à necessidade de rastreios com início ainda em idade pediátrica, sobretudo aos indivíduos de risco (IMC e perímetro da cintura aumentados, bem como a massa gorda aumentada), “o que possibilitaria a deteção precoce do problema que é a diabetes e o qual pode estar presente no indivíduo durante longo período antes de ser diagnosticado”.
Esta investigação, realizada por um consórcio liderado pelo Imperial College London, envolveu cerca de 400 investigadores.
Analisou dados de 2000 a 2021, relativos ao diagnóstico da diabetes de 117 estudos internacionais, correspondendo a 601.307 adultos (56% mulheres), com uma idade média de 50 anos, dos quais 327.554 possuíam dados completos da glicose em jejum e da HbA1c.