28 de março de 2017 Um estudo assinado por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) associou a crise financeira de 2007-2008 ao aumento do número de bebés que nasceram com baixo peso em Portugal (menos de 2,5 quilos). De acordo com esta investigação, publicada na revista “BMJ Global Health” e a que a “Lusa” teve hoje acesso, os recém-nascidos de mães imigrantes estão entre os mais afetados. Henrique Barros, responsável pela Unidade de Investigação em Epidemiologia Perinatal e Pediátrica do ISPUP, e um dos autores do estudo, defende, por isso, que «o governo reforce as políticas sociais para as grávidas estrangeiras, trabalhadoras ou noutras situações vulneráveis, mantendo a igualdade, efetiva, na saúde, durante a gestação». Os investigadores do ISPUP avaliaram dados oficiais de dois milhões de nascimentos registados em Portugal, entre 1995 e 2014, concluindo que a crise fez aumentar o número de bebés que nascem abaixo do peso. O estudo concluiu que entre 2006 e 2014, houve uma subida do número de nascimentos com baixo peso em Portugal (de 6% para 7%), mas esta tendência já vinha de anos anteriores à crise de 2007-2008. «No entanto, nas mulheres imigrantes, o aumento é mais notório (1,5 pontos percentuais), porque na década anterior a tendência era de descida», sublinhou Henrique Barros. Os autores do estudo referem que há vários anos que Portugal tem registado um aumento do número de crianças que nascem com pouco peso, devido ao adiamento da maternidade e ao consumo do tabaco durante a gravidez, por exemplo. Contudo, os dados mostram que «essa tendência foi acelerada nos anos posteriores à crise financeira e de forma muita mais acentuada nas mães imigrantes, que são, sublinhe-se, responsáveis por cerca de 10% dos bebés nascidos em território nacional». Os especialistas salientam que as crianças que nascem com menos de 2,5 quilos têm uma desvantagem significativa na sua saúde futura, com maior probabilidade de desenvolverem doenças crónicas ao longo da vida. Na sexta-feira, o ISPUP anunciou que começa em abril a avaliar o acesso das mulheres imigrantes aos serviços de saúde em Portugal durante a gravidez e o nível de satisfação quanto aos cuidados durante e pós-parto. Com este estudo, designado “Bambino – Saúde Perinatal em Imigrantes: Barreiras, Incentivos e Resultados”, pretende-se «compreender de que forma os serviços de saúde são utilizados pelas mulheres imigrantes, em comparação com a população portuguesa», disse à “Lusa” Henrique Barros. Para obtenção dos dados vão ser inquiridas sete mil mulheres (3.500 imigrantes e 3.500 portuguesas nativas), durante o período de dez meses a um ano, sendo o recrutamento das participantes realizado por profissionais de 38 centros hospitalares com maternidade (todos os que se localizam em Portugal Continental). A equipa envolvida no projeto pretende perceber se os dispositivos legais – como o direito a cuidados sem restrição – funcionam de forma efetiva, o que lhes vai permitir analisar «as desigualdades que as imigrantes enfrentam» nesses casos. Os resultados deste estudo vão servir de base para apoiar decisões no âmbito da implementação de programas de saúde relacionados com a gravidez e da integração das imigrantes no Sistema Nacional de Saúde, referiu Henrique Barros. A investigação vai permitir ainda comparar as práticas portuguesas com as realizadas em países como o Canadá, a Austrália, o Reino Unido e a Noruega, nos quais se aplicam questionários semelhantes aos utilizados em território nacional. Participam neste estudo cerca de 14 investigadores, epidemiologistas, sociólogos e médicos de saúde pública e de obstetrícia do ISPUP, bem como 80 investigadores clínicos pertencentes aos Serviços de Obstetrícia dos hospitais públicos portugueses. |