Os estudantes de Medicina consideram que a formação médica é “reiteradamente alvo de desinformação” por parte de decisores políticos, uma situação que pretendem combater com uma campanha para esclarecer a população de “forma objetiva e neutra”.
Segundo a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), esta desinformação tem sido “facilmente difundida e perpetuada por membros de órgãos políticos com poder de decisão em Portugal”.
No seu entender, a desinformação constitui uma dos “maiores obstáculos à melhoria da qualidade de formação médica e, por causa disso, à melhoria da qualidade dos cuidados de saúde em Portugal”.
Por esse motivo, a ANEM lançou uma campanha nas suas redes sociais que visa informar a população de “forma fidedigna sobre os tópicos mais relevantes da formação médica, de forma objetiva e neutra”.
“A nossa prioridade neste momento é informar, porque quanto melhor as pessoas conhecerem o assunto, mais pressão política haverá para optar por caminhos que privilegiam a formação médica de qualidade”, disse à agência Lusa o presidente da ANEM.
Francisco Pêgo sublinhou que, “quer por desconhecimento genuíno, quer por intenção de desinformar para manipular a opinião pública”, se assiste repetidamente “decisores políticos a tentar chegar à comunicação social com perspetivas simplistas sobre a formação médica”.
“É isso que nós queremos desmistificar com este trabalho”, que irá esclarecer os portugueses sobre o problema das vagas em Medicina, o número de estudantes por cada professor, e o seu impacto na qualidade do ensino e na garantia do respeito pelo doente, a insuficiência de financiamento das faculdades e as condições de trabalho no SNS.
Para melhorar a formação médica e haver mais especialistas, o presidente da ANEM defendeu que tem que haver “uma coerência” nas decisões políticas tomadas, que devem ser no sentido de aumentar o número de vagas para a formação pós-graduada (internato da especialidade).
“Nós temos uma formação médica pré-graduada [nos cursos de Medicina] e uma formação médica pós-graduada. Se queremos mais médicos especialistas – o que é necessário para promover a prestação de cuidados de saúde com maior qualidade -, então tem que haver opções políticas no sentido de formar mais especialistas”, sublinhou.
Francisco Pêgo elucidou que no último concurso para acesso a formação especializada havia 2.849 candidatos e o número de vagas disponibilizadas para a formação pós-graduada foi de apenas 1938, cerca de 2/3 do número total de candidatos.
“Ora, se queremos prestar cuidados de saúde na especialidade de Ginecologia e Obstetrícia ou em outra qualquer especialidade com recurso a mais médicos especialistas, nós temos que assumir um compromisso de que queremos mais pessoas a entrar no internato da especialidade”, o que passa por criar os incentivos necessários para assegurar a sua formação.
Mas isto só vai acontecer se houver a capacidade de reter num serviço especialistas que possam ter tutores para dar formação aos estudantes no internato, vincou.
Francisco Pêgo observou que as vagas para o curso de Medicina quase quadruplicaram em 25 anos. Neste momento, Portugal é destacado nos relatórios da OCDE por ser um país que “aumentou muito o seu número de vagas sem ter havido um correspondente aumento da capacidade formativa da formação pós graduada”.