COVID-19. Um dos temas mais ouvidos e falados nos últimos tempos, e que, lamentavelmente, já nos vem afetando há cerca de 6 meses.
Há alguns dias atrás, tive a oportunidade de falar com o Secretário Regional de Saúde e Proteção Civil, Dr. Pedro Ramos, onde afirmou, com toda a sua experiência e conhecimento, que provavelmente o vírus continuar-se-ia a manifestar nos próximos tempos, mas que o grande desafio consistiria na adaptação ao mesmo, e na vontade de continuar a viver da melhor forma possível.
Neste sentido, uma vez que os indivíduos que apresentam malnutrição (desnutrição/obesidade), doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes, são os mais propensos a complicações, senti a necessidade de escrever um pequeno artigo. Aqui, revela-se a importância de manter um bom estado nutricional, a fim de conseguirmos prevenir e minimizar as complicações provenientes desta infeção viral.
Estudos recentes indicam-nos que uma alimentação adequada permite a manutenção do sistema imunitário em boas condições, a redução dos processos inflamatórios e o controlo metabólico, condicionantes de magna importância, a nível populacional, para se enfrentar a doença.
Além disso, acoplado às situações de confinamento, a diminuição de atividade física, o aumento do comportamento sedentário, e o aumento do stress verificado em grandes fatias da população (muitas vezes causado pelas crescentes e constantes notícias sobre esta pandemia), provocam alterações hormonais, alterações nos padrões alimentares, diminuição da duração do sono e, por último, aumento do “food craving”.
Analisando os factos supracitados, podemos deduzir que haverá, consequentemente, uma ingestão energética excessiva proveniente dos comportamentos alimentares, e um desequilíbrio do balanço energético, proveniente dos comportamentos sedentários. Tudo isto origina excesso de peso ou obesidade, e, portanto, uma resposta imune mais comprometida.
Infelizmente, o estado nutricional e a infeção interagem entre si num ciclo vicioso, pois a infeção deteriora o estado nutricional e a desnutrição aumenta a suscetibilidade à infeção.
Deparamo-nos, assim, com inúmeros desafios.
A realidade vivida impõe-nos uma menor frequência de ida às compras de alimentos, bem como um aumento do receio em adquirir produtos frescos, dado que existe a perceção de que estes podem estar contaminados. Com isto, há um afastamento de uma alimentação saudável, pois há um comprometimento da ingestão de, por exemplo, fruta e hortícolas. Saliento que, apesar de ainda não haver provas de que os alimentos são uma via de transmissão do vírus, estes são uma superfície de contacto, pelo que é fulcral a boa prática de higiene e segurança dos alimentos.
Adicionalmente, o abrandamento da economia e o aumento do desemprego levam a que haja uma diminuição do rendimento mensal, o que origina uma restrição na compra de alimentos, sendo que há preferência pelos mais baratos e, muitas vezes, de pior qualidade nutricional. Assim, podemos aferir que a insegurança alimentar pode reduzir a capacidade de reagir eficazmente à COVID-19. Por conseguinte, é fundamental a identificação de famílias que estejam nestas condições e apoiá-las, quer através do aumento da literacia alimentar quer através do fornecimento de, por exemplo, cabazes alimentares.
Um ponto fundamental em todo este panorama, é a população idosa. De acordo com os dados, verificamos que prevalência de idosos em risco nutricional, ou com desnutrição, varia entre 15,8% e 38,7%. Desta forma, impõe-se a promoção de uma alimentação adequada, tanto nas instituições que prestam apoio como no seio familiar, através dos cuidadores e familiares.
Portanto, para otimizar o estado de saúde, há que cumprir a terapêutica farmacológica; manter um estilo de vida adequado, através de uma alimentação saudável e da prática de exercício físico; aumentar campanhas que promovam boas escolhas; reforçar as consultas nos cuidados de saúde primários, sendo que estas têm um papel importantíssimo na prevenção de doenças e promoção da saúde; avaliar o estado nutricional de todos os doentes infetados na admissão hospitalar e fornecer o melhor acompanhamento e terapia possível.
Por fim, apelo à consciencialização individual para a tomada de melhores decisões, uma vez que estas irão, sempre, ter repercussões na própria saúde.
Joana Abreu