Especialista diz que contaminação em queijos de Idanha-a-Nova «não é normal» 972

04 de Fevereiro de 2016

A especialista em segurança alimentar Paula Teixeira disse hoje à “Lusa” que a contaminação pela bactéria listeria verificada na Cooperativa de Produtores de Queijo em Idanha-a-Nova «não é nada normal».

«Isto [a contaminação] não é nada normal: 39 amostras positivas em 52 lotes. Diria que não foi uma contaminação que ocorreu de ontem para hoje», afirmou a especialista em segurança alimentar e investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto.

A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) mandou destruir recentemente 29 toneladas de queijo produzidas na Cooperativa de Produtores de Idanha-a-Nova, devido à presença da bactéria listeria monocytogenes.

Paula Teixeira admitiu que, tendo em consideração a sua experiência com outros casos semelhantes, «provavelmente» a bactéria «está de alguma forma instalada no local de produção».

«O que acontece muitas vezes é que esta bactéria se instala em equipamentos, no ambiente, e acaba por contaminar o produto final», acrescentou.

A investigadora sublinhou que não é fácil a eliminação da bactéria numa situação destas.

«É preciso muito trabalho primeiro para perceber qual é o foco de contaminação e depois o que fazer para o eliminar», sustentou.

Um dos problemas da bactéria listeria monocytogenes é o facto de ser super-resistente às condições de processamento: cresce no frigorífico e resiste às altas concentrações de sal, sublinhou.

Paula Teixeira disse também que a bactéria pode estar presente desde que não atinja números muito elevados na altura do consumo.

«Se à saída da fábrica o produto estiver direitinho não vai haver problema», sustentou.

De acordo com a especialista, a recolha de produtos contaminados com este tipo de bactéria ocorre diariamente em todo o mundo.

«Estamos a falar de uma bactéria muito resistente, que cresce no frio. Sendo muito perigosa, andamos sempre em cima destes casos. Como é uma bactéria que anda no ambiente, a possibilidade de algo correr mal existe. Não é por falta de controlo», frisou.

Sem quaisquer alarmismos, a investigadora sublinha que a listeria monocytogenes causa infeções muito severas, mas raras.

«Em Portugal surgem anualmente 10, 20 ou 60 casos de infeção. O problema é que a taxa de mortalidade [por listeriose] anda na ordem do 40%. São casos raros, mas muito graves quando aparecem», alertou.

Paula Teixeira explicou também que a infeção por listeriose ao nível da União Europeia é a que «mais mortes causa por ingestão de alimentos contaminados», ficando mesmo à frente da salmonella.

A bactéria listeria monocytogenes vive habitualmente no solo, em desperdícios e na vegetação, mas pode contaminar as hortaliças cruas, comidas preparadas, queijos, patés ou carnes cozinhadas.

O corpo humano, graças ao seu sistema imunitário, está bastante bem preparado para resistir à presença desta bactéria, que habitualmente provoca apenas transtornos intestinais ou febre.

No entanto, em recém-nascidos ou adultos, com defesas em formação ou deterioradas, a infeção pode ser mortal.