Do “lado menos favorecido do sistema” para a “transformação” da Ordem 1897

Liliana Sousa, nutricionista na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, venceu no passado sábado (14) a eleição para bastonária da Ordem dos Nutricionistas (ON), com 49,4% dos votos.

“Por um voto se ganha, por um voto se perde”, é comum ouvir-se. Neste caso, foram 16 os votos que separaram as candidaturas de Liliana Sousa e Bárbara Beleza (recolheu 48,5% dos votos), numas eleições com uma taxa de abstenção preocupante (55,8%) que deixou transparecer uma profissão bastante dividida na sua visão de futuro.

Na madrugada de sábado, após a publicação dos resultados provisórios pela ON, a VIVER SAUDÁVEL recolheu as primeiras impressões da nova bastonária. Tem pela frente quatro anos de um mandato que, a seguir aquilo que sistematicamente foi reiterado ao longo da campanha, ficará na história por uma mudança de rumo.

O “lado menos favorecido do sistema”

Ainda que perante duas candidaturas diferentes, entre si e entre as políticas de Alexandra Bento, a profissão não conseguiu desligar-se da ideia de que estas eleições marcavam precisamente a escolha entre a continuidade e a mudança. “Apesar de tudo, sendo pouca a diferença [de votos], esta é uma vitória importante, porque representa um ponto de viragem”, explicou Liliana Sousa, com um projeto que “incidiu nas necessidades da profissão”.

Vencer sempre foi para si “uma possibilidade em cima da mesa”, ainda que “do lado menos favorecido do sistema”, e perante nomes de peso na Lista concorrente, a começar pela sua representante, atual presidente do Conselho Geral da ON. “Nunca deixei de ter uma visão realista sobre tudo o que estava em causa”, referiu, apesar da “confiança e convicção de que este era o projeto que a profissão precisava”.

Tem a noção de que “nunca é fácil arriscar-se numa mudança”, mas congratula-se pela decisão dos colegas, apesar de uma vitória por pouco, um empate no Conselho Geral e uma derrota no Conselho Jurisdicional. Pelo contrário, a aparente polarização “pode até ser saudável”, ao manter um equilíbrio entre as duas visões para o setor. Promete “uma realidade mais democrática, de maior proximidade, com outro tipo de comunicação”.

“Recuperamos um equilíbrio no Conselho Geral”

Se Liliana Sousa foi eleita para bastonária por uma margem mínima, e o mesmo aconteceu para a vitória da Lista concorrente no Conselho Jurisdicional, no caso do Conselho Geral foram distribuídos exatamente 20 mandatos para cada lado. “Recuperamos um equilíbrio que não existia, círculos eleitorais que nas últimas eleições tinham sido ganhos por Alexandra Bento”, referiu a nutricionista que em 2019 fez parte da Lista de Fernando Pichel.

“Como disse várias vezes, o papel do Conselho Geral tem de ser repensado e esta distribuição equitativa também nos oferecerá condições para trabalhar nesse sentido”, disse também, rejeitando que “se cinja apenas discutir e aprovar planos e relatórios de atividades e contas”. “Queremos que o Conselho Geral tenha um papel mais ativo naquilo que são os interesses dos nossos colegas, estou muito satisfeita com os resultados”, assumiu.

“Faz-nos questionar o que se passa com os colegas”

Os números da abstenção (55,8%) foram os maiores da noite, e inclusivamente ultrapassaram os valores de 2019 (47,9%), com menos associados e uma quase certa reeleição de Alexandra Bento. “Fico muito triste, acho que falo pelas duas candidaturas quando digo que aceitaríamos muito melhor um resultado que sentíssemos ser efetivamente a escolha da maioria, faz-nos questionar os colegas”, atestou.

“Queremos muito que estes colegas se voltem a sentir parte da sua Ordem e espero, durante este mandato, poder contribuir para isso. Para que, eventualmente, nas próximas eleições, este panorama se inverta e possamos ter uma menor abstenção”, concluiu, reforçando a importância da ligação entre os profissionais e aqueles que os representam.