Dieta, microbiota e dermatite atópica: qual o nosso papel na prevenção? 2315

O microbiota intestinal desempenha um papel importante nas doenças alérgicas, incluindo a dermatite atópica (DA). Hoje é bem (re)conhecido o papel do microbita na saúde humana. O microbiota intestinal é reconhecido como órgão metabólico, endócrino mas também modulador do sistema imunitário. Sabe-se que desequilíbrios do microbiota intestinal, disbioses, estão associados ao desenvolvimento de doenças como cancro, obesidade, diabetes tipo 2, doenças autoimunes como a psoríase, entre muitas outras. Todas estas com um padrão de inflamação crónica de baixo grau. A DA não é exceção. Trata-se de uma doença inflamatória da pele, mas não só. Também com manifestações no intestino e no pulmão.

Sabe-se que o desenvolvimento de doenças alérgicas, como a asma e a DA, está intimamente associado a alterações na diversidade e composição do microbiota intestinal, em particular, menor abundância de Lactobacillus e de Bifidobacterium. No entanto, as proporções de Escherichia coli, Clostridium difficile e Staphylococcus aureus estão aumentadas nos pacientes com DA. Curiosamente, as alterações ao nível do microbiota intestinal são observadas antes de qualquer manifestação clínica, logo no início da vida, indicando a disbiose microbiana intestinal como uma das causas da DA. Mais, tipicamente a integridade intestinal está comprometida, com maior permeabilidade, chamado de ‘leaky gut’.

Sabe-se que durante os primeiros 2-3 anos de vida o microbiota intestinal assume uma composição semelhante ao que terá o adulto. Estes primeiros anos de vida são de uma enorme vulnerabilidade e por isso de oportunidade para uma maior atenção de todos, em particular dos profissionais de saúde. Sabe-se que o tipo de parto, se leite da mãe ou de fórmula, diversificação alimentar, presença de animais domésticos, toma de antibióticos, vida em ambiente rural ou urbano, vão ser determinantes para a formação deste órgão, o microbiota intestinal.

Sabe-se que a maioria dos probióticos, contribuem para a tolerância imunológica. A imunoglobulina (Ig) A é uma proteína antibacteriana que bloqueia a adesão de patógenios ao epitélio intestinal e aumenta a retenção de bactérias no muco. Sabe-se que a Bifidobacterium estimula as placas de Peyer para induzir a produção de IgA e manter a integridade da barreira intestinal. A administração de Lactobacillus GG e Saccharomyces boulardii afeta a liberação de citocinas e o ambiente da mucosa, e isso aumenta a produção de IgA no intestino. A regulação do equilíbrio entre as respostas do sistema imunológico do tipo Th1 e do tipo Th2 é uma forma de melhorar os sintomas clínicos em doenças alérgicas. Sabe-se que B. animalis subespécie lactis Bb12 aumentou a resposta de IgA. Mais, o D-triptofano, como metabolito de Bifidobacterium, Lactobacillus e Lactococcus, suprime a resposta Th2, aumentando a IL-10, e diminuindo a IL-12, IL-5 e IFN-gama. Estudos pré-clínicos em que usam suplementação com D-triptofano, têm resultados significativos ao nível da resposta Th1/Th2. O ácido linoleico conjugado (CLA) inibe a liberação de histamina, o que induz aumento da permeabilidade vascular e está associado ao desenvolvimento da DA. Sabe-se que Bifidobacterium, Lactobacillus e Roseburia spp. metabolizam ácidos gordos polinsaturados, incluindo ácidos gordos ómega-3 e ómega-6, em CLA.

Considerando-se o conhecimento sobre os benefícios da adesão à Dieta Mediterrânica sobre a diversidade do microbiota e sobre os metabolitos que mais predominam como os ácidos gordos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato), compreende-se a importância de alteração dos hábitos alimentares, se não antes, pelo menos durante a gravidez e que sejam adotadas essas rotinas na família.

A evidência epidemiológica e molecular primeiro, e a evidência mais recente clínica de estudos de intervenção, durante a gravidez e primeiros dias de vida, com probióticos, mostraram benefício na prevenção da DA. Os probióticos contribuem para corrigir/compensar a disbiose, o equilíbrio das respostas imunológicas e a regulação da atividade metabólica. A maioria dos estudos sugere que os suplementos probióticos podem ser uma alternativa para a prevenção e tratamento da DA. Estudos mais recentes mostram benefício do transplante (transferência) de microbiota intestinal na DA. Uma esperança terapêutica na DA.

Conceição Calhau, Professora Catedrática da NOVA Medical School