Durante o webinar “Produção Alimentar Sustentável”, organizado pela Associação Portuguesa de Nutrição (APN), em finais de setembro, mostrou-se como a Dieta Mediterrânica pode ser aliada a uma produção sustentável. Mas também como valorizar produtos alimentares mediterrânicos e como combater o desperdício alimentar.
No âmbito do 10.º aniversário do reconhecimento, em Portugal, da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, “entendeu a APN que no cumprimento da sua missão de promover a divulgação de assuntos relativos à nutrição e alimentação, no propósito de contribuir para valorizar o mesmo, deveria de alguma forma auxiliar a reforçar a importância desses dez anos”, explicou Célia Craveiro à VIVER SAUDÁVEL. Neste sentido, vai decorrer um ciclo de quatro webinars, entre setembro e dezembro, assentes nos eixos da Dieta Mediterrânica, nomeadamente: produção alimentar sustentável; estilo de vida; alimentação; e convivialidade.
“Pretende-se ter connosco uma série de diversos intervenientes que têm dedicado uma parte da sua componente profissional a trabalhar os eixos referidos”, salientou a presidente da direção da APN, comentando que os webinars são “um modelo que nos permite de uma forma simples ter momentos de aproximação com os nossos associados, e não só, levando temas que terão claramente interesse na prática profissional diária”. Os conceitos da Dieta Mediterrânica, “devem fazer parte integrante da atuação dos profissionais de nutrição e, por isso, são também parte intrínseca da missão da APN”, concluiu.
Aliada da Sustentabilidade
No dia 29 de setembro – data em que se assinalou o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar – decorreu o primeiro webinar. Um dos assuntos abordados foi justamente o facto de a Dieta Mediterrânica poder ser aliada a uma produção sustentável. No que ao arroz diz respeito, por exemplo, é importante prevenir a poluição, sendo que os aspetos mais relevantes, como indicou Carla Brites, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), “referem-se à poluição da água, do ar, do solo e à produção de resíduos”. Neste contexto, “o uso seguro e razoável de pesticidas é um dos elementos-chave para a sustentabilidade porque pode poluir as águas que vão comunicar com todo este ecossistema”.
Acontece que os insetos “têm revelado mecanismos de resistência aos principais compostos ativos, além de existirem muitas restrições legais que levaram a uma redução do número de compostos ativos legalmente permitidos”. Deste modo, segundo a investigadora, “a ventilação, a refrigeração ou atmosferas modificadas nos silos são alternativas viáveis para controlar a ocorrência de insetos durante o armazenamento”.
Valorizar Produtos
Transformar a bolota em farinha e usá-la, por exemplo, para fazer pão pode ser uma maneira de valorizar produtos alimentares mediterrânicos. Esta foi a ideia apresentada por Cristiana Nunes, do Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa (ULisboa), baseando-se na tese de doutoramento de Rita Beltrão Martins.
O objetivo era fazer um pão sem glúten com vantagens tecnológicas e nutricionais. E, neste sentido, a farinha de bolota, segundo a oradora, é “rica em ácidos gordos insaturados (80%), fibra, vitamina E, clorofilas, carotenoides, compostos fenólicos e elevada capacidade antioxidante”. Além disso, “sendo constituída por cerca de 50% de amido, apresenta características muito interessantes para a produção de pão em mistura com outras farinhas”, acrescentou.
Reduzir o Desperdício Alimentar
Boas práticas para a diminuição do desperdício alimentar foi outra das temáticas abordadas durante o evento, tendo ficado a cargo de Mafalda Colaço, nutricionista da Eurest, que apresentou as estratégias para a sustentabilidade da empresa. Ao nível da saúde e bem-estar, o objetivo é “ajudar as pessoas a fazerem melhores escolhas, promoverem a saúde mental e adotarem estilos de vida mais saudáveis”.
No que toca ao ambiente, a missão é “reduzir o desperdício alimentar e os plásticos de utilização única, assim como promover o consumo de refeições à base de legumes e leguminosas”. Já a um nível mais abrangente, ou seja, da perspetiva de se contribuir para um mundo melhor, Mafalda Colaço partilhou que a finalidade da empresa é “efetuar compras sustentáveis e responsáveis e a promoção das comunidades locais”.
ESTE ARTIGO FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NO NÚMERO 86 (NOVEMBRO-DEZEMBRO) DA REVISTA VIVER SAUDÁVEL.