A área da “Psiquiatria Nutricional” tem resultado em evidência que suporta um papel de padrões alimentares saudáveis na gestão de sintomas de doenças mentais como a depressão. De forma a orientar ensaios clínicos e intervenções dietéticas personalizadas, alguns grupos de investigação têm-se dedicado a identificar mecanismos de ação através dos quais a dieta pode influenciar a saúde mental e cerebral. No entanto, os mecanismos subjacentes à associação entre dieta e outcomes de saúde são intrincados, multifatoriais e dinâmicos, interagindo com inúmeras vias biológicas.
De facto, têm sido identificadas diversas vias através das quais a dieta pode afetar a saúde mental. Estas incluem modulação de vias envolvidas na inflamação, stress oxidativo, microbiota intestinal, desregulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (ex., produção de cortisol), metabolismo do triptofano e da quinurenina, obesidade, epigenética (e dieta nos primeiros anos de vida), disfunção mitocondrial, e neurogénese e fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). No entanto, a natureza emergente da “Psiquiatria Nutricional” resulta em que uma parte considerável da literatura disponível sobre os mecanismos biológicos subjacentes à relação entre o impacto da dieta na saúde mental seja pré-clínica.
Mas, até à data foram publicados alguns estudos em humanos que demonstraram, por exemplo, que certos padrões alimentares, tais como a dieta mediterrânica, têm sido associados a um risco reduzido de depressão, tanto em estudos transversais como prospetivos. Para além disto, o ensaio clínico randomizado “SMILES”, o primeiro estudo de intervenção a testar melhorias na dieta como estratégia de tratamento em adultos com depressão, demonstrou melhorias significativas nos sintomas depressivos em após intervenção com uma dieta do tipo mediterrânica, em comparação com uma intervenção controlo (i.e., suporte befriending).
Apesar dos resultados promissores obtidos em estudos como o ensaio “SMILES”, para uma compreensão precisa do impacto da dieta na saúde mental serão necessários ensaios clínicos com intervenção que avaliem também marcadores relacionados com as vias biológicas referidas anteriormente, ou seja, com uma componente mecanística. Contudo, é inegável o potencial que esta área apresenta para o futuro da nutrição, particularmente a nutrição personalizada.
Gabriela Ribeiro, MSc, PhD
Professsora Auxiliar Convidada
Nutrição e Metabolismo
Nova Medical School I Faculdade de Ciências Médicas, UNL
Nutricionista Especialista em Nutrição Clínica (1738N)