Diabetes tipo 1: tratamento com células estaminais do cordão umbilical associado a melhorias nos níveis de insulina 623

A administração de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical a doentes com diabetes tipo 1 é segura e exerce um efeito benéfico de preservação da função das células pancreáticas produtoras de insulina, e consequentemente, no nível de insulina produzida pelo próprio organismo, segundo um novo estudo publicado na revista científica Stem Cell Research and Therapy.

A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune caracterizada pela perda progressiva de células do pâncreas produtoras de insulina. Uma vez que o organismo não produz insulina suficiente, os doentes com diabetes tipo 1 necessitam de injeções frequentes desta hormona, de forma a controlar os níveis de açúcar no sangue. Não existe, atualmente, nenhuma opção terapêutica capaz de travar eficazmente a doença.

A terapia com células estaminais mesenquimais tem sido investigada para prevenir a progressão da diabetes tipo 1, com resultados promissores. À semelhança dos estudos em modelo animal, que demonstraram que as células estaminais mesenquimais são capazes de retardar o aparecimento e a progressão de diabetes tipo 1, ensaios clínicos preliminares evidenciaram a segurança desta terapia em humanos e o seu potencial para travar a progressão da doença.

A Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, explica que “as células estaminais mesenquimais podem ser obtidas a partir de tecido do cordão umbilical, colhido na altura do parto através de um procedimento simples e indolor. Para além de possuírem uma grande capacidade de multiplicação em laboratório, estas células são capazes de regular o sistema imunitário, apresentando um grande potencial para o tratamento de doenças autoimunes”.

O estudo agora publicado comparou a evolução clínica de 27 doentes, a quem, para além da terapêutica convencional, foram administradas células estaminais, com a de 26 doentes tratados recorrendo apenas à terapêutica convencional, baseada na administração de insulina. A média de idades dos participantes foi de 25 anos, tendo sido diagnosticados com diabetes tipo 1 entre 0 a 24 meses antes do início do estudo. Todos apresentavam excesso de açúcar no sangue, requerendo terapêutica com insulina, iniciada imediatamente após o diagnóstico. O tratamento experimental consistiu na administração, por via intravenosa, de duas doses de células estaminais do tecido do cordão umbilical, com 3 meses de intervalo.

Após um ano de seguimento, 40,7% dos doentes tratados com células estaminais permaneciam em remissão clínica, em contraste com apenas 11,6% dos doentes do grupo controlo. Este dado indica que o tratamento experimental teve um efeito positivo na preservação da função das células pancreáticas produtoras de insulina e, subsequentemente, no nível de insulina produzida pelo próprio organismo (insulina endógena). Este resultado é importante tendo em conta que, na maioria dos doentes, o nível de insulina endógena produzido vai decrescendo ao longo do tempo. Outro resultado significativo deste estudo, que sugere que o tratamento experimental foi eficaz na conservação da função das células pancreáticas produtoras de insulina, foi o facto de três doentes tratados com células estaminais terem deixado de necessitar de insulina durante algum tempo (4, 12 e 20 meses), após o tratamento, em contraste com o grupo controlo, em que nenhum doente se tornou independente da administração de insulina. Além disso, um ano após o início do estudo, os níveis de péptido C – que refletem os níveis de insulina endógena – eram melhores nos participantes adultos tratados com células estaminais, comparativamente aos do grupo controlo.

Os autores da investigação sublinham que, apesar destas evidências, é necessário realizar mais estudos, com maior número de doentes, que confirmem estes resultados, antes da sua aplicação na prática clínica.

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