Diabetes: a ameaça silenciosa para a visão dos portugueses 1222

Na semana em que se assinala o Dia Mundial da Diabetes (14 de novembro), a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) alerta os portugueses para o facto de a diabetes ser uma ameaça silenciosa para a visão e a principal causa de perdas graves de visão ou mesmo cegueira.

Existem diversos problemas que podem afetar a visão, entre os quais está a diabetes, uma doença que afeta mais de um milhão de portugueses, entre os 20 e os 79 anos[1], e que pode levar ao aparecimento da retinopatia diabética.

A retinopatia diabética é uma complicação ocular decorrente da diabetes. O seu mecanismo resulta de fatores modificáveis e não modificáveis. Nos modificáveis estão os níveis de açúcar no sangue (glicemia), a hipertensão arterial, a dislipidemia (aumento dos níveis de lípidos no sangue), a obesidade e a função renal. Se estes fatores modificáveis não forem controlados, podem resultar numa lesão crónica e sustentada nos vasos sanguíneos da retina, que levam à falência dessa barreira e à oclusão vascular, causando a saída de líquido para a retina ou a sua microtrombose. Perante isto, a pessoa em questão poderá ter perdas graves de visão.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que há cerca de 146 milhões de adultos no mundo com retinopatia diabética. Carlos Marques Neves, coordenador do Grupo Português de Retina e Vítreo da SPO, afirma que “temos de fazer o possível para combater o atual cenário da doença, caso contrário prevê-se um crescimento deste número para cerca de 180,6 milhões em 2030. É alarmante e uma ameaça significativa para a qualidade de vida de muitas pessoas.”[2]

No início da patologia, a retinopatia diabética pode ser assintomática e, portanto, não dar sinais. Por ser silenciosa, torna-se ainda mais perigosa. “É fundamental ir ao médico oftalmologista e fazer rastreios com regularidade, principalmente no caso de quem vive com diabetes tipo 2 (DT2). Perante o diagnóstico de DT2, deve ser realizado um rastreio de imediato e manter um acompanhamento regular. Já as pessoas com diabetes tipo 1 devem fazer a primeira consulta de oftalmologia nos primeiros cinco anos após terem sido diagnosticadas”, reforça o médico oftalmologista.

Globalmente, estima-se que há, pelo menos, 2,2 mil milhões de pessoas com deficiência visual, dos quais em, pelo menos, mil milhões – quase metade – a perda da visão poderia ter sido prevenida ou ainda não foi tratada.[3] Fazem parte desta estatística cerca de três milhões de pessoas com retinopatia diabética.[4]

Carlos Marques Neves reforça: “A retinopatia diabética vai progredindo e pode originar alterações da visão de contraste, da visão das cores e da visão com pouca luz. O fator tempo é determinante para evitar consequências mais graves ou irreversíveis. A deteção precoce e o tratamento adequado são vitais para travar a progressão da doença.”

Para a SPO é crucial continuar a contribuir para a consciencialização e educação dos portugueses sobre a retinopatia diabética através da partilha de informação credível e relevante. Simultaneamente, motivar as pessoas que vivem com diabetes a procurarem um acompanhamento regular com médicos oftalmologistas, controlarem os seus níveis de açúcar no sangue, adotarem um estilo de vida saudável e seguirem as orientações médicas para minimizar o risco de desenvolver a doença.

Referências:
[1] Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). (2019). Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes. Disponível em: https://www.spd.pt/images/uploads/20210304-200808/DF&N-2019_Final.pdf. (Consultado em outubro de 2023).
[2,3,4] Organização Mundial da Saúde (OMS). (2019). World report on vision. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241516570. (Consultado em outubro de 2023).
[5] Direção-Geral da Saúde (DGS). Norma da DGS 016/2018. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0162018-de-13092018-pdf.aspx. [Consultado em novembro de 2023].