Como é que o bem-estar animal se relaciona com a segurança alimentar? A questão tem resposta simples: o stress e a ausência de bem-estar animal podem levar ao aumento da suscetibilidade a doenças transmissíveis entre os animais, o que representa riscos para o consumidor, como por exemplo, o aparecimento de infeções de origem alimentar. As boas práticas de bem-estar animal não só reduzem o sofrimento desnecessário, mas ajudam ainda a tornar os animais mais saudáveis. É, por isso, de bem-estar animal e segurança alimentar que se fala neste Dia Mundial da Alimentação.
“Animais em bem-estar são aqueles capazes de lidar e de se manter em equilíbrio com o seu ambiente, em termos biológicos, mentais e comportamentais”, esclarece o Prof. Dr. George Stilwell, membro do Conselho Directivo da Ordem dos Médicos Veterinários. “Está perfeitamente estabelecido e comprovado pela ciência que animais com elevado bem-estar são animais com um sistema imunitário ativo e eficaz. Ou seja, animais menos suscetíveis a doenças e, portanto, com menor probabilidade de virem a ser alvo de tratamentos. Na mesma linha de ideias, está demonstrado que a fisiologia e a homeostasia dos animais não expostos a dor, ansiedade ou desconforto sofrerá menos alterações (stress) que quase sempre desencadeiam problemas orgânicos. Em suma, animais criados, transportados e abatidos em condições de bem-estar apresentam rendimento superior e dão origem a produtos alimentares de muito maior qualidade e segurança”, acrescenta.
Um bem-estar a que os produtores de animais estão muito atentos. Carlos Neves, secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), não tem dúvidas que “o estado de saúde e o bem-estar dos animais são uma prioridade para os produtores de leite, por dois motivos essenciais: primeiro, porque apenas com animais saudáveis e nas melhores condições de bem-estar conseguimos produzir alimentos seguros e de forma economicamente sustentável. Por outro, porque essa é uma exigência cada vez maior dos consumidores”.
Uma opinião partilhada por David Neves, presidente da Direcção da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), que defende que “os padrões sanitários e de bem-estar animal são centrais na produção animal por serem os indicadores que mais se relacionam com a eficiência da produção e com a segurança dos alimentos. Os produtores pecuários são os principais interessados em garantir nos seus métodos produtivos os mais elevados padrões de saúde e de bem-estar animal, pois só assim asseguram a viabilidade e sustentabilidade da atividade”.
É assim no caso da produção de leite, de porcos e é também na de aves. “A legislação europeia em termos de saúde e bem-estar animal é a mais avançada do mundo, mas as empresas e os agricultores vão, em muitos domínios, muito para além das imposições legais pois sabem que isso constitui uma base de valorização e diferenciação dos seus produtos”, refere Pedro Raposo Ribeiro, secretário-geral da Federação Portuguesa das Associações Avícolas (FEPASA). “O modelo de integração vertical de produção avícola, responsável por cerca de 90% da oferta de carne de aves em Portugal, aliado a um constante investimento na inovação e no desenvolvimento tecnológico, permitem definir e aplicar códigos de boas práticas cada vez mais exigentes e eficazes do ponto de vista da qualidade e segurança dos produtos.”
Do lado da Associação Nacional de Engordadores de Bovinos (ANEB), Nuno Ramalho, presidente da Direção, não tem dúvidas da existência de que “quanto melhor for o estado dos animais, melhor será o produto resultante. Daí haver uma constante evolução nos tratamentos de prevenção administrados aos animais e melhoria das condições das explorações”.
A qualidade e segurança leva a que, refere Carlos Neves, “os produtores trabalhem em conjunto com veterinários, zootécnicos através de associações, cooperativas e empresas privadas, no sentido de cumprirem todas as normas legais, garantirem a saúde permanente dos animais e nomeadamente seguirem os protocolos de bem-estar animal que são exigidos pelas empresas que compram o leite”.
Este trabalho é salientado por George Stilwell, que realça a importância de uma “constante monitorização, aconselhamento e intervenção dos médicos veterinários”. Um papel que deve ser “contínuo e constante em todos os processos e atividades que compõem a cadeia alimentar. São estes profissionais que, depois de garantirem o bem-estar e a saúde dos animais, garantem a salubridade e a qualidade dos produtos que se destinam às prateleiras dos supermercados, mercearias, talhos e afins. Mas há mais. São também os médicos veterinários que supervisionam a qualidade higio-sanitária daquilo que é servido à mesa dos restaurantes.”