A última etapa para a aquisição do título de licenciado em Ciências da Nutrição, Dietética ou Dietética e Nutrição é precisamente o estágio curricular. É, para muitos estudantes, o primeiro contacto com a realidade da profissão e mercado de trabalho enquanto futuros nutricionistas, tornando-o num momento desafiante, pautado pela grande vontade de colocar em prática todos os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo da licenciatura e de procurar absorver toda a informação que recebe. Por se caracterizar por ser um período ímpar na definição das áreas prediletas de atuação, é aqui que reside um dos primeiros desafios do estágio curricular – a escolha da área de atuação. Nesta tomada de decisão deve ser considerada a área de maior interesse e a que faz mais sentido ao estudante, aquela em que o mesmo pretende aperfeiçoar e adquirir mais conhecimento.
A profissão de Nutricionista percorre um caminho de versatilidade, permitindo ao estudante a escolha de atuar em múltiplas vertentes, extinguindo o pensamento de que o estágio curricular ditará a área de atuação de um futuro profissional. Independentemente de no final do estágio o estudante se identificar ou não com a área em que realizou o estágio, nada é decisivo e o importante é retirar o melhor partido da experiência, seja do trabalho desenvolvido, dos profissionais com que contactou e acima de tudo, da aquisição das ferramentas necessárias para as etapas seguintes. Nesta fase é importante aproveitar a experiência para aprender, não ter medo de errar e saber questionar – apenas assim é possível ultrapassar obstáculos, adquirir confiança e responsabilidade no trabalho, de forma a evoluir a nível pessoal e profissional. Citando Fernando Pessoa: “Põe quanto és no mínimo que fazes” – esta deverá ser a ideia a seguir. Embora nesta fase o estudante ainda não tenha terminado a licenciatura, já estará apto para contactar com a prática, sempre com algumas salvaguardas naturalmente, devendo por isso ter autoconfiança para aplicar os seus conhecimentos, visto que o estágio curricular é a momento ideal para tal.
Após o término do estágio curricular, o recém-licenciado é confrontado com mais um desafio, o Estágio Profissional de acesso à Ordem dos Nutricionistas, que permitirá o exercício da profissão. Nesta fase, o jovem licenciado e futuro Nutricionista Estagiário, capacitado de conhecimentos teóricos e práticos, tem a autonomia para desenvolver o seu estágio, no máximo, em duas entidades empregadoras. Dentro de um leque tão vasto de áreas, por norma, este já tem uma noção da(s) área(s) onde pretende atuar. No entanto, ainda é notória a resistência por parte de algumas entidades empregadoras no que diz respeito à integração destes profissionais em determinadas áreas de atuação. Torna-se imprescindível demonstrar às entidades em causa as mais valias que um Nutricionista desempenha nestes locais, através do desenvolvimento de um trabalho exímio que dê provas da necessidade e pertinência na sua contratação. O profissional, ao valorizar o seu trabalho, está a prestigiar a sua profissão procurando combater um mercado de trabalho, que por vezes ainda apresenta condições precárias, não oferecendo condições de remuneração justas ao trabalho que é efetuado por muitos profissionais e, em particular, pelo Nutricionista Estagiário. A desvalorização do “primeiro emprego” por parte das entidades recetoras pode, em muitos casos, levar a que muitos jovens reflitam sobre a sua escolha, e chegando a esta fase, é legítimo que se questionem se realmente estarão na direção certa, no sentido do Nutricionista ter uma profissão valorizada e reconhecida. No entanto, é de responsabilidade individual desempenhar as funções profissionais com ética e rigor científico, marcando a diferença juntos dos demais, fazendo prova do seu valor e conseguindo, assim, destacar-se na área em que atua. Este não será um caminho fácil, no entanto, depende de nós trabalhar para alcançar o que objetivamos enquanto profissionais desta tão nobre área.
Mariana Mota e Patrícia Rodrigues
ANEN – Associação Nacional de Estudantes de Nutrição