Da nutrição à medicina: Apenas 1 em cada 10 jovens profissionais de saúde está satisfeito com as condições de trabalho 618

A Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde, em parceria com o Conselho Nacional de Juventude, divulgou no passado sábado (05) os resultados de um estudo nacional realizado junto de cerca de 1500 jovens profissionais do setor da saúde, revelando, segundo as organizações em comunicado, “um cenário crónico preocupante de insatisfação e intenção crescente de emigração.”

O estudo, que abrange profissionais de diversas áreas, evidencia a “urgência” de medidas concretas para a valorização dos profissionais de saúde.

Principais conclusões do estudo:

  • Condições de trabalho: 45% dos profissionais afirmam estar insatisfeitos com as condições de trabalho atuais, sendo que apenas cerca de 10% afirma estar satisfeito.
  • Stress: O stress é uma constante no trabalho com 70% dos profissionais a sentir-se sob pressão frequentemente.
  • Balanço vida pessoal e profissional: Mais de 60% dos profissionais de saúde sentem que os seus horários de trabalho não permitem conciliar a vida pessoal, profissional e familiar, enquanto apenas cerca de 18% expressa um equilíbrio saudável.
  • Êxodo de recursos humanos: 65% dos jovens profissionais já considerou ou considera emigrar, sendo que as principais razões se prendem com melhores condições salariais, melhor qualidade de vida e oportunidades de desenvolvimento.
  • Impacto na qualidade dos cuidados: 54% dos inquiridos acreditam que a falta de condições laborais compromete a qualidade dos cuidados prestados aos utentes.
  • Progressão na carreira e satisfação profissional: Encontra-se ainda uma relação importante entre a perceção das oportunidades de progressão na carreira e a disposição para escolher a mesma profissão novamente. Entre aqueles que sentem que a sua profissão não oferece oportunidades de progressão, 60% afirmaram que não escolheriam a mesma profissão se pudessem recomeçar. Em contraste, entre os que acreditam que a sua profissão oferece boas oportunidades de progressão, 73% voltariam a escolher a mesma profissão.
  • Colaboração entre profissionais de saúde: 95% acreditam que a colaboração melhora a qualidade dos cuidados embora apenas metade considere ter sido preparado para esta realidade durante a sua formação.

Segundo Xavier Canavilhas, membro da Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde, “o Barómetro revela um panorama preocupante, mas, ao mesmo tempo, dá-nos os dados para, de uma forma positiva, podermos trabalhar com os colegas e entidades governamentais”.

“Apesar da dedicação inquestionável à profissão, os jovens profissionais de saúde em Portugal enfrentam condições de trabalho difíceis, com salários baixos, falta de progressão na carreira e um elevado nível de stress — fatores que os levam a considerar seriamente a emigração. A grande maioria expressa o desejo de permanecer no país, mas sente-se desmotivada por um sistema que não valoriza adequadamente o seu trabalho”, garante.

O representante acrescenta ainda que “existia um canal aberto de proximidade com o atual Governo para trabalhar com a Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde em propostas concretas para o país”, sendo que espera que “a interrupção deste ciclo legislativo não coloque em causa as mudanças que são urgentes no setor da saúde”.

Acrescenta ainda que “os dados apontam ainda para uma relação direta entre a valorização da opinião dos profissionais e a sua satisfação com as condições laborais. A análise revela que, quanto mais um profissional sente que a sua opinião é considerada, maior tende a ser a sua satisfação”.

Os dados divulgados demonstram que muitos profissionais desejam permanecer no país, mas sentem-se forçados a procurar outras oportunidades. O estudo avaliou ainda que os fatores principais que influenciam a retenção de profissionais no interior do país são a remuneração competitiva, que surge como o principal fator, sendo a prioridade número um para cerca de 32% dos inquiridos, seguida pela qualidade de vida, que também foi altamente valorizada.

O acesso à habitação, com custos de habitação acessíveis e programas de apoio, é uma necessidade prática crucial, especialmente para profissionais mais jovens. O apoio à mobilidade familiar, como a ajuda na adaptação de cônjuges e filhos, também foi destacado, especialmente por quem já tem família.

Adicionalmente, numa altura em que se fala sobre a atratividade do serviço público de saúde, muitos profissionais atualmente no setor privado prefeririam trabalhar no setor público, caso este oferecesse condições idênticas. Outro dos desafios que ameaçam a sustentabilidade do modelo de cuidados de saúde prende-se com a coesão territorial do sistema. Segundo este estudo, 48% acham “nada” ou “pouco” atrativo trabalhar no interior do país.

Apelo a medidas concretas

O Barómetro, apresentado na primeira Convenção Nacional de Jovens Profissionais de Saúde, visa retratar um diagnóstico da motivação dos jovens profissionais de saúde, tema que esteve em debate durante a convenção, que contou com a participação de personalidades como Cristina Vaz Tomé, secretária de Estado da Gestão da Saúde, Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud e a atual ministra da Juventude e da Modernização, Margarida Balseiro Lopes.

Segundo Leonor Quelhas Pinto, membro da Direção do Conselho Nacional de Juventude, “agora que temos dados concretos sobre as aspirações dos jovens profissionais de saúde, a Convenção apresenta-se como um fórum decisivo para que organizações, em conjunto com os colegas das demais áreas da saúde, possam apresentar à Tutela aquelas que são as medidas que podem ser aplicadas para mudar esta realidade”.