Crónica Nutricional para Hipertensos 992

Mitos e Factos

Realizou-se no passado dia 17 mais um Dia Mundial da Hipertensão.

Este ano a Direção da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), entidade responsável pela sua realização no nosso país, escolheu a cidade da Covilhã para capital das comemorações.

De entre os vários eventos que a SPH leva a cabo ao longo do ano, este é, de longe, o expoente máximo entre os que são direcionados para a população em geral.

Ao longo do dia e, para além dos habituais rastreios da pressão arterial, mantivemos atividades tendentes à sensibilização para três vetores principais, a saber:

– Redução do consumo de sal
– Incentivo à prática de atividade física regular, entendida esta como uma atividade capaz de ser realizada e adapatada a qualquer pessoa e, cuja duração se situa nos 30-40 min. diários
– Adesão e cumprimento da medicação

Foi para nós muito gratificante a grande mobilização por parte das forças vivas da cidade, como foi o caso da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade da Beira Interior, e da Câmara Municipal.

Isto traduziu-se num número recorde de rastreios que ultrapassaram os novecentos.

Qual a importância deste dia, destes rastreios e dos ensinamentos adicionais?

Nunca é demais lembrar que as doenças cardiocerebrovasculares são a principal causa de morte em Portugal.

Os números são bem mais do que assustadores:

– Mata 1 em cada 3 portugueses.
– 1 em cada 4 doentes hipertensos não sabe que o é
– 1 em cada 2 hipertensos medicados não tem os seus valores controlados (140 / 90 mmHg)

Nos últimos 30 anos, tínhamos vindo a diminuir progressivamente a taxa de mortalidade pela doença cardiocerebrovascular, tendo, inclusive, em 2013, baixado, pela primeira vez, dos 30%.

Infelizmente, esta queda não se manteve e, fruto da crise, que ninguém quis assumir como responsável pela quebra nos cuidados de saúde, voltámos a subir e, provavelmente a ultrapassar de novo a barreira dos 30%.

Julgo que nunca é demais referir e acentuar:
A hipertensão é uma doença crónica própria dos pobres dos países ricos e dos ricos dos países pobres.

Voltando ainda aos rastreios e aos ensinamentos, mantivemos a tónica de outros anos e que passo a salientar:

Na nossa dieta, devemos ter a consciência que para um hipertenso:

As saladas são um mau alimento! Para nós portugueses elas são temperadas com sal e, normalmente em quantidades generosas.
Lembro a este propósito o ditado popular:
“A salada quer-se feita por um desgovernado e mexida por um tresloucado”.

– Quem estiver habituado a tomar café não deve deixar de o fazer só porque passou a ser hipertenso. O que bebia deve continuar a beber, já que o café não faz subir a tensão arterial.

Estes são dois mitos que importa acabar com eles definitivamente e sem hesitações!

Infelizmente, os nossos decisores não têm ajudado a incentivar e a mobilizar o doente hipertenso para a necessidade de este aumentar a adesão ao tratamento que lhe é prescrito, nem a favorecer uma prescrição que seja simples, eficaz e cómoda.

Ninguém gosta de ter de tomar um número infindável de comprimidos se o puder fazer, com maior eficácia, com apenas um ou dois.

Isto porque este tratamento da hipertensão não é para um dia, é para uma vida.

Caro? Nada é mais caro do que a morte.

Espero que cada vez mais, mais portugueses se consciencializem para a necessidade de uma dieta saudável pobre em sal, se consciencializem para a necessidade combater o sedentarismo e a consequente obesidade e consciencializem para a necessidade de uma maior adesão ao tratamento.

Manuel de Carvalho Rodrigues,
Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão