Ao longo da última década, tem sido crescente o interesse na vitamina D e o seu papel nas doenças cardiovasculares, entre outras morbilidades. Historicamente, a deficiência severa de vitamina D (raquitismo) associava-se a estados de má nutrição que se tornaram cada vez mais raros com a suplementação dos produtos lácteos e a recomendação por rotina de suplementação com vitamina D oral nas crianças no primeiro ano de vida pelas principais sociedades de pediatria. Estudos epidemiológicos demonstraram o risco aumentado de doenças crónicas com valores baixos de vitamina D e, mais recentemente, a deficiência de vitamina D foi declarada um factor independente de risco de incidência de doença cardiovascular e mortalidade global (Wang J, et al., Diabetes Care 2008; Melamed ML, et al., Arch Intern Med 2008). De acordo com a equipa de investigação do Framingham Heart Study, o défice de vitamina D associou-se a um aumento do risco de doença cardiovascular e, um estudo recente mostrou uma relação entre baixos níveis de vitamina D com o risco de doença cardíaca. Vários estudos epidemiológicos confirmaram ainda uma relação inversa entre níveis séricos de vitamina D e diabetes mellitus tipo 1, tipo 2 e resistência à insulina, mas ainda não há dados quanto à eficácia da suplementação de vitamina D na prevenção da diabetes. Estudos observacionais realizados em populações de doentes portugueses confirmam uma elevada prevalência de deficiência de vitamina D e a sua associação com patologias crónicas, nomeadamente, doença cardiovascular. Será isto suficiente para recomendar o doseamento e suplementação de vitamina D como medida de prevenção do risco cardiovascular dos nossos doentes? Presentemente, os dados que sustentam uma eventual relação causal entre deficiência de vitamina D e doença cardiovascular são ambíguos e permanece pouco claro se a suplementação de Vitamina D com a finalidade de cardioproteção poderá beneficiar todos ou apenas aqueles que apresentem um défice severo. Os dados que fundamentam esta relação da vitamina D com risco cardiovascular provêm sobretudo de estudos observacionais, o que não permite inferir quanto à causalidade, podendo tratar-se apenas de uma relação mediada por outros factores endócrinos ainda não estabelecidos. A associação entre défice de vitamina D e elevação da pressão arterial, por outro lado, tem por base dados mais convincentes do envolvimento do metabolismo da vitamina D na patogénese da doença cardiovascular. Alguns investigadores propõem uma relação causal com base em dados experimentais e translacionais que demonstram um efeito modulador da vitamina D no eixo Renina-Angiotensina-Aldosterona. Apesar da sua importância estabelecida para a saúde global do indivíduo, a suplementação com vitamina D poderá, ou não, ajudar no controlo tensional e na diminuição do risco cardiovascular do indivíduo. As metanálises e revisões sistemáticas realizadas até à data acerca do tema mostraram resultados contraditórios – alguns estudos mostraram um efeito hipotensor dos suplementos enquanto que outros revelaram um efeito neutro. Tendo por base estes estudos, as recomendações nutricionais atuais relativas à vitamina D devem ir no sentido do consumo das doses diárias recomendadas pelas sociedades internacionais. Existem guidelines para a suplementação de vitamina D em doentes com deficiência documentada. No entanto, à data não existe evidência suficiente para justificar a suplementação por rotina de indivíduos de risco cardiovascular aumentado com valores de vitamina D adequados. Mais estudos serão necessários para melhor caracterizar esta relação e determinar a necessidade de suplementação por rotina dos indivíduos hipertensos ou com risco cardiovascular acrescido. Joana Silva Monteiro, |