Porque é que o sal faz mal? A resposta é simples. O sal não faz mal, sendo até mesmo necessário à sobrevivência dos seres humanos e fundamental para manter o equilíbrio do organismo. O seu consumo em excesso é que é prejudicial à saúde. Quando consumido em demasia provoca retenção de líquidos e, por conseguinte, aumento de volume, levando a uma sobrecarga no sistema circulatório. A hipertensão arterial é a doença mais grave associada ao consumo de sal em excesso. É uma doença crónica caracterizada por elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, o que faz com que o coração tenha de exercer um esforço maior do que o normal para fazer circular o sangue através dos vasos sanguíneos. Quando não é controlada, pode levar à ocorrência de eventos fatais como o acidente vascular cerebral (AVC) ou o enfarte agudo do miocárdio (EAM). É uma doença silenciosa, indolor e que não apresenta sintomas alarmantes e identificáveis ao início. O gosto pelo sal não é inato, é um hábito adquirido e a ingestão de alimentos salgados aumenta ainda mais o desejo de fazê-lo. Mas é bom recordar que o sal mascara o sabor natural dos alimentos. Para nos habituarmos a uma alimentação com baixo teor de sal é aconselhável adoptarmos determinadas estratégias, sendo aqui que entra o nutricionista. O papel do nutricionista é fundamental uma vez que reduzir o consumo de sal nem sempre é tarefa fácil para a maioria das pessoas. Assim sendo, o nutricionista deve aconselhar e delinear estratégias para reduzir o sal na alimentação, tais como: Segundo o estudo de prevalência representativo da população continental portuguesa PHYSA – Portuguese Hypertension and Salt Study – levado a cabo pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) em 2013, 95,6% dos portugueses ingere sal acima do máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cuja recomendação é de apenas 5,5 gramas diárias (1 colher de chá rasa). Em 2006 ingeríamos 11,9 gr/dia. Com o surgimento da lei do sal em 2009, fruto do trabalho feito quer cientificamente quer diplomaticamente pela SPH, e dado o pão representar 25 % da alimentação de um português, foi possível reduzir o consumo de sal para 10,7 gramas, como demonstrou o estudo PHYSA. Desde 2003 a mortalidade por AVC reduziu 42%. A SPH estima que a redução do sal em 1,2 gr/dia levou à redução da mortalidade por AVC em 12 a 14%.
José Mesquita Bastos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão |