Nem todo o açúcar é igual: O caso dos sumos 100% 3802

Os sumos 100% não têm adição de açúcar, mas há quem pense que os seus açúcares naturalmente presentes podem ter efeitos prejudiciais. Mas as dúvidas podem ficar esclarecidas, quando novos estudos vêm confirmar que os sumos de fruta 100% apresentam efeitos positivos e/ou neutros em relação à obesidade, ao controlo glicémico e ao valor nutricional. Afinal, que evidência tem sido produzida?

A lei europeia estabelece que os sumos de fruta 100% não podem ter açúcares adicionados (1). No entanto, o desconhecimento deste facto (porque não é permitido aos sumos 100% comunicarem a não adição de açúcares) leva a que os sumos de fruta 100% sejam incluídos no grupo das bebidas açucaradas, desconsiderando as diferentes matrizes dos dois tipos de produtos. Para melhor compreender como os sumos de fruta 100% e as bebidas com açúcar adicionado afetam o corpo humano, é relevante olhar para um conjunto de estudos que, ao longo dos últimos anos, comparou os sumos de fruta 100% com bebidas controlo (normalmente adoçadas com açúcar), observando o risco de diabetes tipo 2, variações no perfil lipídico ou ganho de peso. Desde logo, comecemos por um estudo publicado na Nutrition Research que deu os primeiros indícios de mais valias do sumo de laranja 100%, revelando que o seu consumo poderá estimular a transferência de colesterol livre para o colesterol de lipoproteína de alta densidade – HDL2.

Estudos da Universidade de Hohenheim, têm revelado que os sumos de fruta 100% são mais ricos em micronutrientes, como potássio, vitamina C, folato e flavanonas bioativas, como hesperidina e narirutina, que têm sido positivamente associadas a efeitos na saúde metabólica.

Um dos mais recentes estudos (3), coordenado pelo Prof. Dr. Reinhold Carle, investigou os efeitos do consumo de sumo de laranja 100% e do consumo de bebidas açucaradas em diferentes parâmetros da saúde metabólica. O estudo revelou que beber sumo de laranja 100% diariamente leva a um melhor controlo glicémico, provavelmente devido ao seu índice glicémico surpreendentemente baixo em comparação com as bebidas açucaradas (50 para sumo de laranja e 63 para as bebidas açucaradas). Os níveis de potássio sérico, que sustentam a pressão arterial normal, permaneceram os mesmos. Os níveis médios de ácido úrico no sangue diminuíram, sugerindo um menor risco de gota. Resultados que se poderão dever ao complexo perfil nutricional do sumo de laranja 100%, que inclui, os já referidos altos níveis de potássio e folato, alto teor de vitamina C e flavonoides, como a hesperidina e narirutina.

Se o ponto de avaliação for o impacto ao nível do peso corporal, várias análises também demonstraram efeitos neutros ou positivos do sumo de fruta 100%. Um dos exemplos mais recentes, de investigadores da Universidade de São Paulo, no Brasil (4), integrou 78 pessoas obesas num estudo randomizado onde foi administrado o consumo diário, durante 12 semanas, de sumo de laranja 100% ou de uma bebida controlo, como parte de uma dieta hipoenergética. Ambos os grupos perderam quantidades semelhantes de peso, mas a ingestão de vitamina C e folato aumentou, respetivamente, em 62% e 39% no grupo que bebeu sumo de laranja 100%. Mais interessante do que isso, foram observadas melhorias significativas no perfil de insulina e no perfil lipídico no grupo que consumiu sumo de laranja 100% em comparação com o grupo controlo.

Noutro estudo randomizado cruzado (5) desenvolvido na Alemanha e publicado na “Nutrition & Diabetes”, os resultados revelaram que beber sumo de laranja 100% à refeição levou a uma pequena diminuição na massa gorda média de -0,3 kg.

Apesar dos sumos 100% conterem açúcar, este é apenas aquele naturalmente presente na fruta, uma diferença amplamente desconsiderada levando a que as diferentes bebidas sejam muitas vezes categorizadas num único grupo. Tendo em conta a evidência revista, podemos dizer que esta diferença, que pode parecer marginal, é, de facto, fundamental.

Veja os vídeos abaixo:

 

A nutricionista Maria João Campos colabora com o programa Fruit Juice Matters da AIJN – Associação Europeia das Indústrias de Sumos de Fruta. Todos os esforços foram assegurados para garantir que as informações contidas neste artigo são confiáveis. A informação destina-se a profissionais de saúde e não constitui aconselhamento dietético.
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(1) European Parliament and of the Council (2012) Fruit juice directive.
http://eur lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2012:115:0001:0011:EN:PDF.
(2) Cesar TB et al. (2010) Orange juice decreases low-density lipoprotein cholesterol in hypercholesterolemic subjects and improves lipid transfer to high-density lipoprotein in normal and hypercholesterolemic subjects. Nutr Res 30(10):689-94.
(3) Büsing FA et al. (2018) High intake of orange juice and cola differently affects metabolic risk in healthy subjects. Clin Nutr: in press https://www. clinicalnutritionjournal.com/article/S0261-5614(18)30093-1/fulltext.
(4) Ribeiro C et al. (2017) Orange juice allied to a reduced-calorie diet results in weight loss and ameliorates obesity-related biomarkers: A randomized controlled trial. Nutrition 38:13-19.
(5) Hägele FA et al. (2018) High orange juice consumption with or inbetween three meals a day differently affects energy balance in healthy subjects. Nutr Diab 8: 19-27.