A comunicação é fundamental na prática clínica e quando é estabelecida de forma competente e eficiente, facilita o estabelecimento de uma relação de confiança entre os profissionais de saúde e os utentes, criando uma verdadeira aliança terapêutica. Estas são as conclusões de um estudo do Journal of Medicine and Life que a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) subscreve, com o objetivo de ajudar as pessoas com diabetes e os profissionais de saúde que as acompanham a comunicar de forma mais eficaz.
“A comunicação é fundamental para o processo de motivação. É uma ferramenta de conexão entre as pessoas, mas, por isso também tem o poder de aproximar ou afastar. As pessoas com doenças crónicas, como é o caso da diabetes, estão habituadas a receber informação no sentido da adesão à terapêutica e a comportamentos de saúde com alguma especificidade. Para que a comunicação seja, realmente, eficaz é fundamental que seja objetiva, clara, concreta e assertiva”, explica Ana Lúcia Covinhas, psicóloga clínica e da saúde na APDP.
A especialista considera ainda que “tendo em consideração que cada pessoa funciona por autodeterminação e é responsável pelo seu (próprio) comportamento, se as instruções de saúde forem dúbias, ambivalentes, pouco consistentes e, acima de tudo, se não tiverem em conta as especificidades do que é viver com uma doença como a diabetes, a comunicação não chega às pessoas e pior, pode até funcionar como ruído e, por isso, ter o efeito oposto ao pretendido, ou seja, desmotivar! Assim, é fundamental que se considerem os profissionais de saúde habituados a trabalhar com esta população na definição e implementação de estratégias a adotar nos planos de intervenção para a motivação à adesão às terapêuticas e comportamentos de saúde, em geral”.
Ana Lúcia Covinhas refere ainda que no contexto da pandemia da covid-19 uma comunicação eficiente ganhou uma importância ainda maior. A psicóloga clínica da APDP afirma que neste período “as pessoas com diabetes deverão ser alvo de uma atenção redobrada no que diz respeito às técnicas de comunicação utilizadas, tendo em conta que desde o início da pandemia foram consideradas como grupo de risco em caso de infeção pelo novo SARS-COV-2. Esta especificidade redobra a atenção das pessoas para o que lhes é dito, tanto quanto para o que lhes é pedido.”
E foi precisamente tendo em conta esta realidade que a APDP reforçou os seus canais e estratégias de comunicação desde o primeiro confinamento. José Manuel Boavida, presidente da associação, sublinha que “Em março de 2020 criámos uma linha de apoio telefónico para que as pessoas com diabetes e seus cuidadores pudessem esclarecer as suas dúvidas e preocupações sem precisarem de sair de casa e desde então já promovemos dezenas de conversas virtuais de esclarecimento sobre as várias dimensões que a diabetes envolve”.
“Utilizámos também as nossas redes sociais e reforçámos a divulgação junto da comunicação social pois sabemos que uma população mais informada é também uma população com mais saúde. A própria gestão da pandemia é um verdadeiro estudo de caso de comunicação em saúde e que tem demonstrado como uma comunicação menos efetiva pode ter efeitos desastrosos do ponto de vista da saúde pública”, conclui o presidente da APDP.