Como é tradicional, todos, na passagem do calendário para um novo ano, fazemos o balanço do que se passou antes e formulamos os nossos desejos, quer pessoais quer profissionais, para o próximo ano.
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e o conjunto dos Internistas do país não são exceção e querem, sobretudo, mudar.
O final do ano de 2023 e o início de 2024 foram duros para a população, para o SNS no geral e para a Medicina Interna em particular. Sabemos que tudo está em mudança e há necessidade de inovar e trilhar caminhos seguros.
Os médicos têm apontado as múltiplas desconformidades do sistema, de que são exemplos: a relevância dos novos objetivos e prioridades da classe médica face à profissão, com foco nos horários e condições de trabalho; a constituição de pequenos núcleos sem comunicação entre si em que o sistema de saúde se tem transformado, fragilizando o SNS pois o ambulatório tem ficado em segundo plano e o serviço de urgência é a porta principal de acesso para os doentes, neste caso uma urgência hospitalar suportada pela Medicina Interna e pelas horas extraordinárias que os médicos têm de cumprir; a falta crónica de recursos humanos a todos os níveis assistenciais e em todos os grupos dos profissionais de saúde sabendo-se que, no que diz respeito aos médicos, isso condiciona o excesso de horas de trabalho; a falta de reconhecimento aos profissionais; as tarefas não clínicas como fonte de desgaste e desmotivação; a escassez de recursos tecnológicos no SNS em que muitos hospitais possuem equipamentos já obsoletos ou degradados e, nos cuidados primários, a impossibilidade de recorrer a meios complementares de diagnóstico em tempo útil; sistemas informáticos lentos e de difícil operacionalidade entre si e, sobretudo, a falta de visão para o futuro por parte das tutelas e mesmo de alguns órgãos dirigentes dos diversos grupos de profissionais de saúde, com a ausência de planificação a médio e longo prazo. A tónica tem sido resolver os problemas por reação, sem os antecipar e planear estratégias.
Os Internistas estão ao lado dos seus doentes e continuam a gostar da sua profissão e da sua especialidade embora estejam desanimados por não vislumbrarem a vontade de mudança.
No mês de dezembro de 2023, mês em que se comemora sempre o “mês da medicina interna”, a SPMI celebrou os seus 72 anos. Trinta e um Internistas, ao longo dos 31 dias desse mês, expressaram o que sentem que é a sua especialidade. Não houve uma única expressão de desalento. Todos manifestaram a sua alegria por serem internistas, apesar das adversidades que, afinal, se podem transformar em desafios. Todos convergiram, com frases de que se extraem alguns excertos como realçando a exigência, a necessidade de dedicação mas, também, o quanto esta especialidade é gratificante, versátil e uma “arte” porque utiliza o raciocínio clínico na sua maior abrangência, junta as peças para dar sentido aos problemas clínicos e humanos, olha a plenitude multiorgânica, exerce em equipa como maestro da complexidade e consegue surpreender cada um todos os dias apesar da muita responsabilidade e do desafio de ser, realmente, o internista, o médico completo.
O nosso maior desejo é que o SNS encontre o seu rumo e persiga objetivos concretos centrados nos doentes. Continuamos, como no ano passado, com esperança de mudanças estruturais na Saúde, esperança na recuperação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, mais importante, esperança de melhoria da qualidade assistencial à população com melhor acesso aos cuidados.
Os internistas mantêm o seu compromisso de estar presentes para colaborar na recuperação do SNS e no apoio à comunidade.
A SPMI deseja a todos um excelente Ano Novo!
Lèlita Santos – Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna