A lista de restrições alimentares associadas à religião é extensa e exige cuidados redobrados por parte dos nutricionistas e restantes responsáveis pela confeção alimentar nos cuidados de saúde.
Na tarde desta quinta-feira, no XXIII Congresso de Nutrição e Alimentação (CNA 2024) da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), a nutricionista Catarina Cruz apresentou os vários desafios que a multiplicidade de imigrantes residentes em Portugal coloca à sociedade, em particular aos profissionais de Saúde.
“Muitas vezes deparo-me com situações em que me indicam pratos de que nunca ouvi falar”, admitiu a nutricionista do Hospital Dona Estefânia, ao indicar que os desafios comunicacionais são relevantes. Sejam junto de cidadãos que falam português, mas cuja nacionalidade apresenta particularidades (“o mesmo alimento pode ter denominações diferentes” para, por exemplo, a comunidade brasileira), seja junto daqueles que apenas percebem português ou até os que nem falam, nem percebem.
Por outro lado, os desafios de preparação alimentar prendem-se com, por exemplo, a dificuldade em aceder a ingredientes tradicionais de outros países “que normalmente não estão incluídos nos cadernos de encargos”. Os métodos de preparação e confeção diferentes dos portugueses e ocidentais devem ser particularmente analisados, assim como os horários e número de refeições diárias, explicou.
No que toca a restrições alimentares, as particularidades de cada religião revelam-se como um dos maiores quebra-cabeças com que os nutricionistas se devem preparar. No caso do judaísmo, não são permitidos o porco, o coelho, os ovos e o leite de animais não kosher, bem como marisco, sangue e gelatina de origem animal.
Quanto ao islamismo, é de evitar o porco, as bebidas alcoólicas, ou animais não abatidos de acordo com as regras halal. Culturalmente, o aleitamento materno dura dois anos e o ramadão, o jejum diurno durante o 9.º mês do calendário lunar, deve ser tido em conta pelo nutricionista.
O cristianismo, com as suas diversas ramificações, também tem as suas particularidades. A título de exemplo, os seguidores da Igreja Mórmon desencorajam as bebidas alcoólicas (assim como o budismo) e os rastafari não comem crustáceos, chá e café, sendo a maioria vegetariana ou vegana. Tanto o hinduísmo como o siquismo proíbem a carne de vaca e encorajam o lacto-vegetarianismo. Finalmente, a cultura chinesa, com uma dieta rica em amido, hortícolas e pequenas porções de carne, aves e marisco, é igualmente particular.
Para a nutricionista, é importante “identificar as dificuldades relativas aos desafios da multiculturalidade na alimentação”, pois assim será mais fácil “procurar novas estratégias para a sua minimização”. Neste contexto, “compreender o papel da alimentação nas diferentes culturas e religiões permite ao nutricionista responder às necessidades nutricionais de cada indivíduo, respeitando as suas crenças e costumes”.