Anunciada há pouco mais de um mês, a implementação, por parte do anterior Governo, do Nutri-Score enquanto “medida de saúde pública de promoção da alimentação saudável”, traz novas oportunidades para o Nutricionista.
Na conferência de encerramento do primeiro dia do XXIII Congresso de Nutrição e Alimentação (CNA 2024) da Associação Portuguesa de Nutrição, a diretora de Standards e Apoio do Associado da GS1 Portugal – Codipor, Raquel Torres Abrantes, abordou as especificidades do Nutri-Score para a comunidade.
“Enquanto nutricionistas, temos um papel importante na componente clínica a interpretar rótulos, mas todos os colegas da Indústria e da restauração coletiva, onde a rotulagem tem um impacto direto”, desempenham também um papel importante na correta implementação desta ferramenta, considerou.
Nascido em França, o Nutri-Score tem ganho terreno e hoje está presente na Bélgica, Espanha, Países Baixos, Alemanha, Luxemburgo, Suíça e, claro, em Portugal. Com um novo algoritmo que incorpora a evidência de nova literatura científica, são várias as melhorias verificadas, referiu. Nomeadamente na “classificação de peixes gordos”, na “discriminação entre produtos integrais e ricos em fibras e produtos com base em farinhas refinadas”, bem como na “discriminação entre óleos vegetais” e “dos produtos em função do seu teor de açúcar”.
Com entrada em vigor a 31 de dezembro de 2023, o novo algoritmo apresenta um período de 24 meses de adaptação por parte das empresas. “Qualquer alteração tem um impacto gigantesco na Indústria Agroalimentar”, sendo que os produtos se mantém no mercado “até ao seu escoamento”.
As particularidades do Nutri-Score permitem encontrar pontos mais ou menos positivos, e que foram nomeados por Raquel Torres Abrantes. Aplaude-se esta ferramenta com “base científica independente, pictograma simples e acessível, de fácil compreensão”, com uma “adesão da Indústria alimentar e da Distribuição moderna em vários estados-membros” da União Europeia, a “aplicação voluntária e ao incentivo para os fabricantes melhorarem a qualidade nutricional dos seus produtos”.
Por outro lado, apontou a “falta de consenso científico” e admitiu que a ferramenta “não tem em consideração a porção recomendada/consumida” e que “pode ser considerado alegação nutricional e a definição de perfis nutricionais”. O Nutri-Score, referiu ainda, “não tem em consideração outros ingredientes, como aditivos alimentares”, pode apresentar uma “avaliação redutora que pode induzir em erro” e “carece de campanhas de literacia em Nutrição e alimentação”.
É precisamente neste último campo, o da literacia, que a responsável acredita que o Nutricionista pode fazer a diferença junto dos cidadãos, em prol de escolhas alimentares mais informadas e saudáveis.