Cinco milhões de refeições salvas do desperdício em Lisboa 869


06 de junho de 2017

O plano contra o desperdício alimentar na cidade de Lisboa evitou que cinco milhões de refeições por ano fossem parar ao lixo, alimentando, em contrapartida, cerca de 6.500 famílias, anunciou ontem o Comissário Municipal de Combate ao Desperdício Alimentar.

Os resultados foram apresentados em conferência de imprensa pelo vereador da Câmara Municipal de Lisboa e Comissário Municipal de Combate ao Desperdício Alimentar, João Gonçalves Pereira (CDS-PP), que no final do mês termina a sua missão de juntar em rede as entidades que combatem o desperdício alimentar em Lisboa.

«Terminámos aqui um trabalho que iniciámos em maio de 2014 e um trabalho esse que permite, com as nossas instituições na cidade de Lisboa, resgatar qualquer coisa como cinco milhões de refeições que, se não tivessem sido recuperadas, tinham como destino o lixo», afirmou o comissário, realçando que o combate ao desperdício alimentar não começou com o comissariado, mas este permitiu que as instituições que trabalhavam na área começassem a trabalhar em rede.

Este foi o último relatório de atividades do Comissariado, que será extinto, mas que ainda organizará a 26 de junho, em Lisboa, a conferência internacional “Local Food Security and Nutrition Strategies” sobre o combate ao desperdício, coorganizada em parceria com a FAO/Nações Unidas.

Aliás, de acordo com João Gonçalves Pereira, este plano de Lisboa «é reconhecido pelas próprias Nações Unidas, através da FAO, como um excelente exemplo a nível mundial, porque é a primeira cidade do mundo que tem uma rede social solidária que cobre toda uma cidade».

«Temos cerca de 114 entidades que estão neste comissariado [nas 24 freguesias], o que permite uma malha por toda a cidade que funciona de forma organizada, coisa que não acontecia em 2014. Isso movimenta cerca de 7 mil voluntários na cidade de Lisboa», especificou, salientando que são apoiadas 6.500 famílias, avançou a “Lusa”.

«O objetivo aqui é tentar reduzir este número, porque a rede alimentar também tem de ser vista como uma forma de atingir outros objetivos, designadamente em matéria de respostas sociais. Através da refeição e através desta rede alimentar é possível sinalizar junto de um determinado indivíduo ou junto de determinada família qual é o problema que esta família ou esta pessoa tem (…) e, portanto, sinalizando o problema nós podemos encontrar a resposta», acrescentou.

João Afonso, o vereador dos direitos sociais, salientou que o plano continua a fazer sentido «porque, apesar da melhoria económica, da melhoria da situação de emprego, da recuperação de um conjunto de programas de apoio social que se tem vido a verificar (…) isto não significa que a situação na cidade de Lisboa e a nível também do país estejam resolvidas».

O combate ao desperdício alimentar faz parte da agenda do Governo e Nuno Manana, da Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA), realçou que esta comissão tem feito um diagnóstico da situação de desperdício alimentar a nível nacional e deverá apresentar até ao verão um plano nacional de combate ao desperdício alimentar.

Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome (BA), destacou que «só no concelho de Lisboa são distribuídas através da rede refeições a 11.384 pessoas e cabazes a 14.481 pessoas».

«Aqui em Lisboa distribuímos [o Banco Alimentar] 40 toneladas de alimentos todos os dias», salientou.

Além das freguesias e do BA, a rede contra o desperdício reúne instituições como a Refood, a Comunidade Vida e Paz e a CASA – Centro de Apoio aos Sem-Abrigo, a igreja católica e outras confissões religiosas, a ASAE, associações de restauração e de distribuição alimentar.