O número de haitianos a sofrer de insegurança alimentar aguda atingiu os cinco milhões, a par de 360 mil pessoas desalojadas devido à violência entre gangues, indicou na quarta-feira (05) o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, na qual participou virtualmente, o diretor nacional do PAM no Haiti, Jean-Martin Bauer, explicou que o nível de reservas de ajuda humanitária continua bastante baixo em algumas regiões do país, num momento em que persiste um deslocamento em grande escala.
“Mais de 360 mil haitianos tiveram de abandonar as suas casas, sendo que 100 mil deles deixaram a capital, Port-au-Prince, somente no mês de março”, disse, citado pela Lusa.
“Portanto, houve um êxodo para fora da capital, afetando especialmente o sul do país, um local com infraestruturas muito limitadas. E isso está a agravar ainda mais os preços dos alimentos aqui”, acrescentou.
Toda esta situação levou a que cinco milhões de pessoas no Haiti sofram agora de insegurança alimentar aguda, das quais 1,6 milhões enfrentam “condições de emergência alimentar e de segurança”, avançou Bauer, citando dados do Governo.
“Estes são os números mais elevados já registados. Estes são os números mais elevados que tivemos desde o terramoto de 2010”, frisou.
Apesar da grave situação, o diretor do PAM registou alguns “avanços e boas notícias” nos últimos dias, conseguindo fazer chegar refeições a milhares de pessoas em áreas isoladas, assim como produtos médicos vitais a hospitais e clínicas em Port-au-Prince.
“Mas ainda há uma sensação de crise. Estamos no início de junho. Sabemos que este é o início do que se prevê ser uma temporada de furacões muito ativa. É neste momento que os humanitários precisam de estar prontos para agir, precisam de estar prontos para apoiar o Haiti num momento de risco acrescido”, instou.
O Haiti tem sido devastado há décadas pela pobreza, desastres naturais, instabilidade política e agravamento da violência entre gangues.
Desde finais de fevereiro, poderosos gangues haitianos uniram-se para atacar esquadras de polícia, prisões, o aeroporto e o porto marítimo, num esforço para destituir o primeiro-ministro, Ariel Henry, que renunciou ao cargo em 11 de março.
O primeiro trimestre de 2024 foi o mais violento desde pelo menos o início de 2022 no Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental, com mais de 1.660 homicídios, 50% mais face ao último trimestre de 2023.