A partir de um estudo das necessidades nutricionais de mulheres grávidas, cientistas da Universidade de Coimbra (UC) estão a conduzir uma investigação para entender os potenciais impactos da dieta pré-natal no Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Uma equipa de investigadores está a conduzir um projeto de investigação, intitulado “Tryp-to-Brain”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), para entender os potenciais impactos da dieta pré-natal no TEA, a fim de produzir novo conhecimento para futuras abordagens preventivas a esta condição de saúde, informou a UC, numa nota de imprensa enviada à agência Lusa.
A ideia é “perceber como é que a disponibilização de triptofano durante a gravidez pode influenciar o aparecimento ou a severidade de sintomas de Transtorno do Espectro Autista, o que irá permitir uma melhor compreensão das relações entre dieta materna, flora intestinal e desenvolvimento cerebral”, explicou, citada na nota, a investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC e coordenadora do projeto, Joana Gonçalves.
O triptofano é um aminoácido fundamental para a produção de serotonina (um neurotransmissor que regula o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade e funções cognitivas).
O triptofano pode ser adquirido através da alimentação e está presente em produtos, como, por exemplo, o queijo, salmão, frutos secos e ovos.
No entanto, pode também ser obtido através da suplementação, que deve ser consumida apenas sob orientação médica.
Até ao momento, estudos laboratoriais com modelos animais já realizados “mostraram a importância da dieta durante a gestação para o desenvolvimento normal do cérebro”.
“De facto, o triptofano parece ter um papel fundamental no cérebro, sendo, no entanto, ainda desconhecido o seu exato papel durante o desenvolvimento gestacional do cérebro”, afirmou a investigadora.
Joana Gonçalves adiantou que “tendo conhecimento que o triptofano poderá ser fundamental no desenvolvimento de circuitos neuronais funcionais, este estudo poderá servir como prova de conceito para estudos futuros maiores e ensaios clínicos”.
De acordo com a nota, em estudos científicos anteriores, “as doenças do neurodesenvolvimento, tais como Transtorno do Espetro Autista, têm sido associadas a alterações da flora intestinal que poderão resultar de maus hábitos alimentares”, tal como o consumo de dietas com alto teor de gordura.
Por isso, “estes comportamentos alimentares durante a gravidez podem representar janelas de risco adicional para deficiências cognitivas”.
Com este projeto, a equipa da UC pretende deixar “uma melhor compreensão das relações entre dieta materna e desenvolvimento cerebral, o que poderá contribuir para melhorar o tratamento de condições autistas”, destacou Joana Gonçalves.
A investigadora referiu ainda que o projeto “poderá trazer novos conhecimentos sobre as necessidades nutricionais de mulheres grávidas”.
Sublinhou também que, “devido à discrepância económica existente na sociedade, nem todas as mulheres grávidas terão ao seu dispor alimentos ricos em triptofano, sendo, por isso, importante perceber se a deficiência de triptofano no organismo poderá causar alterações cerebrais na descendência e no desenvolvimento de doenças do neurodesenvolvimento”.