03 de abril de 2017 Uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) anunciou hoje ter desenvolvido uma ferramenta online que permite predizer como irá evoluir a doença inflamatória intestinal, nomeadamente a doença de Crohn. Este instrumento vai servir para apoiar a decisão dos médicos na escolha e acompanhamento do tratamento para cada doente, de forma a garantir o melhor controlo possível da doença intestinal. Segundo Cláudia Camila Dias, investigadora principal do projeto, esta ferramenta permite «prever a evolução da doença em cada paciente e adaptar a terapêutica de forma rápida, eficiente e nada invasiva, ou seja, sem necessidade de recorrer a testes genéticos nem laboratoriais». A especialista em bioestatística do CINTESIS explicou que este modelo de prognóstico na doença inflamatória intestinal baseia-se na recolha de dados demográficos e informações clínicas facilmente obtidas em consulta, como a idade em que o paciente foi diagnosticado, o uso de corticoides, a existência de doença perianal e os hábitos tabágicos, por exemplo. A doença inflamatória intestinal inclui duas patologias diferentes: a doença de Crohn e a colite ulcerosa. Trata-se de doenças incapacitantes, de causa desconhecida, que podem afetar qualquer parte do intestino. De acordo com os especialistas, «os pacientes que sofrem destas doenças vêm a sua qualidade de vida (pessoal, social e profissional) muito afetada. No entanto, só muito recentemente é que se passou a verificar uma preocupação com a manutenção da qualidade de vida destes doentes, através da redução do número de cirurgias a que são submetidos e das hospitalizações a que são sujeitos». Num comunicado, citado pela “Lusa”, o CINTESIS refere que para o desenvolvimento da nova ferramenta foi necessário «estudar de forma aprofundada» a relação entre a doença inflamatória intestinal e as diferenças demográficas e clínicas dos pacientes. No âmbito desse trabalho prévio, foi possível averiguar que «os doentes com Crohn com menos de 40 anos, que foram tratados com corticoides e que sofrem de doença perianal, estão em maior risco de apresentarem doença incapacitante. No caso dos pacientes com colite ulcerosa, são os homens, com doença extensa e que usam corticoides, os que estão em maior risco de atingir níveis mais graves da doença, que exijam a remoção de parte do intestino», acrescenta. Os investigadores avaliaram ainda o impacto que o uso de imunossupressores – um tipo de tratamento que diminui a atividade do sistema imunológico do paciente, baixando a inflamação – tem na evolução da doença inflamatória intestinal. As análises realizadas revelaram que os doentes a quem estes medicamentos são prescritos mais tardiamente são operados mais vezes. Cláudia Camila Dias afirmou que esta ferramenta vai ser «integrada no sistema de interface com a base de dados do GEDII – Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal para ser utilizada pelos clínicos». «Este instrumento é completamente funcional, expondo as capacidades analíticas e preditivas desenvolvidas nos modelos criados», acrescentou. O sistema será usado pelos gastrenterologistas durante a consulta de especialidade, através da utilização da interface com a base de dados da consulta. O projeto, que resultou em vários artigos publicados em revistas científicas como o “Journal of Crohn’s and Colitis, Inflammatory Bowel Disease” e a “PLoS One”, foi desenvolvido em colaboração clínica com o gastrenterologista Fernando Magro, e colaboração científica com os investigadores do CINTESIS Pedro Pereira Rodrigues, Raphael Oliveira, Guilherme Macedo e Altamiro da Costa-Pereira. |