Cerca de um quarto da população da República Democrática do Congo (RDCongo) continua a enfrentar fome aguda, segundo a mais recente análise da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC) divulgada esta segunda-feira (28) por uma agência das Nações Unidas.
Os dados, comunicados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), preveem que, entre julho e dezembro de 2024, cerca de 25,6 milhões de pessoas na RDCongo, ou seja, 22% da população analisada, vão sofrer uma insegurança alimentar aguda elevada (IPC Fase 3 ou superior).
Esta estimativa inclui cerca de 3,1 milhões de pessoas que enfrentam níveis críticos de insegurança alimentar (IPC Fase 4).
“As projeções para o início de 2025 sugerem um panorama semelhante, a menos que seja prestada uma assistência eficaz”, alertou a FAO, citada pela agência Lusa.
Esta insegurança alimentar aguda é o resultado de uma combinação de fatores, incluindo conflitos, o aumento dos preços dos alimentos e dos custos de transporte, bem como os efeitos prolongados de várias epidemias, como o sarampo, a cólera, a malária e, mais recentemente, o mpox, salientou.
Para o diretor do Gabinete de Emergências e Resiliência da FAO, Rein Paulsen, a situação de segurança alimentar continua crítica para milhões de pessoas na RDCongo, país que faz fronteira com Angola.
A violência armada e a competição pelos recursos causaram danos maciços nos meios de subsistência e nas infraestruturas rurais, perturbando a produção agrícola essencial, explicou Paulsen.
“Dada a dimensão desta crise, mesmo um ligeiro choque – como o aumento dos preços dos alimentos ou uma má colheita – pode levar ainda mais pessoas à beira do abismo. Para inverter estas tendências sombrias, é essencial pôr fim às hostilidades, restaurar a produção local de alimentos e apoiar as famílias rurais na melhoria da produtividade”, sugeriu.
A FAO salientou ainda que o “impacto do conflito nos meios de subsistência agrícolas na parte oriental do país é preocupante”.
“Em comparação com o ano passado, 25% dos criadores de gado relataram perdas de animais e 35% das famílias afetadas cultivaram menos terras agrícolas”, indicou.
A agência da ONU está a apoiar as famílias afetadas pelo conflito no leste da RDCongo para melhorar a sua segurança alimentar e nutrição.
Assim, dão prioridade de assistência às pessoas deslocadas internamente (PDI), aos retornados e às comunidades de acolhimento em risco, ajudando-os a satisfazer as necessidades essenciais e a gerar rendimentos através de atividades de subsistência de emergência, explicou.
“A FAO está a pré-posicionar materiais agrícolas, incluindo sementes de produtos hortícolas e ferramentas nas regiões afetadas pelo conflito, para que retomem a produção agrícola”, declarou.
“Em pouco mais de dois meses, as famílias poderão produzir, em pequenas parcelas de terreno, uma média de 100 quilogramas de legumes frescos por família”, concluiu.
Assolado por uma violência armada há 30 anos, o leste da RDCongo, e em particular a província de Kivu do Norte, vive um pico do conflito desde novembro de 2021, com o ressurgimento do Movimento 23 de Março (M23), uma rebelião apoiada pelo Ruanda.