Células estaminais do cordão umbilical revelam efeitos terapêuticos na Esclerose Múltipla 779

No âmbito do Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla, que se assinala anualmente a 4 de dezembro, a BebéVida, laboratório de tecidos e células estaminais, lembra que as células estaminais têm potencial terapêutico para tratamento desta doença, como tem sido demonstrado por vários estudos recentes.

Todos os anos é realizado um árduo trabalho de investigação sobre os vários aspetos da EM, com o objetivo de ampliar a compreensão sobre a doença e saber como tratá-la. Apesar das dificuldades, os avanços científicos são notórios. Muitas equipas de investigação, por todo o mundo, têm feito importantes descobertas, com resultados positivos para o diagnóstico precoce da doença, o seu tratamento e definição de hábitos de vida mais saudáveis para os doentes.

Em junho deste ano registou-se um ensaio clínico promissor para tratamento da forma progressiva de esclerose múltipla com sangue do cordão umbilical. Este trabalho conta com a experiência da equipa de Joanne Kurtzberg, da Duke University, que ao longo da última década se tem dedicado ao tratamento de doenças metabólicas hereditárias em crianças. Esta equipa de investigação identificou a capacidade de o sangue do cordão umbilical poder promover a remielinização das bainhas que revestem as fibras nervosas, desenvolvendo um produto à base de sangue do cordão, “DUOC – Duke University O-Cells”, que permite, através de um mecanismo, estimular os oligodendrócitos, as células que produzem a mielina.

Em 2021, um outro estudo conduzido pela “National Medical Advisory Committee of the National Multiple Sclerosis Society” revelou que as células hematopoiéticas do sangue do cordão umbilical são eficazes no tratamento da EM promovendo assim recomendações clínicas[2]. Os autores defendem que o transplante autogolo do sangue do cordão umbilical pode ser uma opção de tratamento útil para pessoas com EM recidivante que demonstram atividade significativa de avanço da doença (ou seja, novas lesões inflamatórias do sistema nervoso central e/ou recidivas clínicas). Verificou-se também que os melhores candidatos são provavelmente pessoas com menos de 50 anos com durações mais curtas de doença (<10 anos). O procedimento só deve ser realizado em centros com experiência e especialização substanciais em que, idealmente, os destinatários do procedimento devem ser inseridos num banco de dados.

“Para além do sangue do cordão umbilical, que tem demonstrados efeitos benéficos marcados, o tecido do cordão umbilical é rico em células estaminais mesenquimais que apresentam efeitos marcados na modulação do sistema imune, ajudando no combate a várias patologias, como a EM, apresentado assim um papel neuroprotetor e, quiçá, regenerativo”, refere Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do laboratório BebéVida.

Vários estudos realizados ao longo dos últimos anos têm mostrado que o transplante com células estaminais autólogas em doentes com EM apresenta melhores resultados do que os medicamentos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), embora ainda não haja um tratamento bem estabelecido.

A investigação sobre a influência das células estaminais provenientes do cordão umbilical na EM foi iniciada há vários anos. Exemplo disso é um estudo realizado em 2014[3] que verificou que os doentes com EM que receberam uma infusão de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical diminuíram o tempo de recaída, melhoraram significativamente todo o perfil inflamatório e imunológico, demonstrando o grande potencial terapêutico destas células na doença.

Outro estudo , cujos resultados foram conhecidos em 2018, revelou que o efeito neuroprotetor das células mesenquimais do tecido do cordão umbilical está fortemente associado ao mecanismo de promoção da remielinização. O trabalho permitiu confirmar que estas células do cordão umbilical têm funções de regulação imunológica e proteção nervosa, indicando a viabilidade e eficácia do transplante no tratamento da EM.

Há ainda trabalhos centrados especificamente na segurança da infusão de células mesenquimais do tecido do cordão umbilical e revelam resultados animadores ao assegurarem que o procedimento é uma prática segura para os doentes. É o caso do ensaio clínico em que foram avaliadas todas as reações durante um ano após a infusão das células mesenquimais do cordão umbilical em doentes com EM, que demonstrou que a aplicação destas células é completamente segura e, portanto, o seu uso e estudo permanente em doentes são aconselhados.

Neste contexto, a investigadora Andreia Gomes afirma que “a utilização destas células é completamente segura e pode também ser usada como coadjuvante a outras terapias, de forma a potenciar todo o seu efeito terapêutico”, acrescentando que “toda a linha de investigação acredita que estas células irão ter um papel preponderante no tratamento da EM”.
A EM é uma doença desafiante no campo da investigação médica, sobretudo por ter uma causa desconhecida, embora geralmente se acredite que haja uma combinação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais que favoreçam o desenvolvimento da doença.

Trata-se de uma doença crónica, autoimune, inflamatória e degenerativa, que afeta o Sistema Nervoso Central, surgindo habitualmente na terceira década de vida, com maior incidência nas mulheres. Cerca de dois terços dos portugueses não sabem o que é a doença. As estimativas apontam para a existência de 2 500 000 pessoas com EM a nível mundial e mais de 8 000 casos em Portugal.

Na EM as fibras nervosas das células do sistema nervoso encontram-se revestidas por uma bainha chamada mielina que é essencial para que os estímulos sejam corretamente propagados. Na EM a mielina é destruída, impedindo uma adequada comunicação entre o cérebro e o corpo. Todo o processo inflamatório que acontece lesiona as próprias células nervosas, causando assim perda permanente de várias funções.

Enquanto patologia de evolução e imprevisível, a EM pode avançar e retroceder de forma inesperada. Em média, sem tratamento, as pessoas apresentam aproximadamente uma recaída (quando os sintomas pioram) a cada dois anos, mas a frequência é bastante variável. Embora ainda não haja cura, existem atualmente vários fármacos para a contenção da doença, tais como corticosteroides (usados para surtos), imunomoduladores (modulam o sistema imunitário) e imunossupressores (bloqueiam a resposta imunitária). Estes fármacos são utilizados para diminuir o risco de ocorrência de surtos e desacelerar a progressão da incapacidade associada à EM.