23 de julho de 2018 A Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica Portuguesa no Porto está a participar num projeto europeu que visa criar soluções tecnológicas e políticas que permitam aos consumidores diminuir os riscos na alimentação, nomeadamente as toxinfeções. «Todos os anos são detetados cerca de 23 milhões de novos casos de doenças relacionadas com infeções alimentares e registadas cerca de 500 mortes por alergia, contração de bactérias, parasitas ou toxinas», informou a ESB. Em Portugal, tal como nos outros países europeus, os agentes responsáveis pelo maior número de toxinfeções alimentares são a Campylobacter e a Salmonella, tendo sido registados, em 2016, 366 e 376 casos, respetivamente, de acordo com a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA). «Apesar do menor número de casos de listeriose [infeção causada pela bactéria Listeria monocytogenes] registados (31), a percentagem de hospitalizações para esta infeção foi de 100%, registando-se, ainda, sete mortes», disse à agência “Lusa” a investigadora da ESB Paula Teixeira. Segundo a ESB, as mudanças e reformulações dos padrões de alimentação, a par das alterações das regras de segurança e higiene da indústria, «são cada vez mais rápidas, o que causa uma certa insegurança na população mundial, nomeadamente sobre o que será uma alimentação correta e segura». Através do projeto SafeConsumE pretende-se desenvolver «estratégias eficazes, sustentáveis e cientificamente validadas», que permitam às autoridades alimentares, à indústria e à comunidade científica ajudar os consumidores na Europa. Esta iniciativa recebeu, a nível nacional, um financiamento de cerca de 10 milhões de euros, por parte do Horizonte 2020 – programa de investigação e inovação da União Europeia -, que irá permitir à ESB criar ferramentas, tecnologias e produtos. Dentro dessas tecnologias figuram termómetros de cozinha «mais fáceis de utilizar», equipamentos «mais fáceis de limpar», cozinhas projetadas de forma a minimizar os riscos de contaminação cruzada, produtos de higiene alternativos e materiais educativos, dependendo das necessidades identificadas. Serão também criadas estratégias de comunicação, programas de educação e modelos políticos «mais dinâmicos, inclusivos e sustentáveis», com vista a garantir a segurança alimentar europeia. O comportamento do consumidor, avançou Paula Teixeira, é definido como «as ações que afetam o risco de infeção veiculada por alimentos em todas as fases, tanto na escolha ou compra, como no armazenamento e na preparação dos alimentos». Atualmente, continuou, as estratégias existentes para a mitigação de riscos através de alterações do comportamento do consumidor parecem não estar a ter a eficácia pretendida. Segundo a especialista, muitos dos casos de toxinfeção alimentar ocorrem em casa e na sequência de um pequeno número de práticas erradas, mas que, no entanto, essas práticas não decorrem, maioritariamente, da falta de conhecimento. «Perceber quais são, realmente, as barreiras à adoção de comportamentos seguros permitirá definir as melhores estratégias de comunicação de risco, que irão traduzir-se em alterações de comportamentos e, consequentemente, na diminuição do impacto do problema de saúde pública grave que as toxinfeções alimentares representam», salientou. Paula Teixeira defende que a implementação de boas práticas na preparação e na conservação de alimentos contribuirá igualmente para a redução do desperdício alimentar em ambiente doméstico, que tem um efeito ambiental negativo, principalmente ao nível da energia, da água e das matérias-primas. «As estimativas mais recentes revelam que 70% do desperdício de alimentos ocorre ao nível familiar e está, frequentemente, relacionado com considerações de segurança alimentar. Será seguro consumir determinado alimento? Em caso de dúvida, o consumidor opta por deitar o produto fora», contou. No SafeConsumE, coordenado pelo NOFIMA (Noruega), participam parceiros de 14 países europeus, destacando-se, a nível nacional, a ESB, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o Ministério da Educação e o Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias e Agroalimentares da Universidade do Porto (ICETA). |