Bebidas de base vegetal: aspetos a considerar para uma escolha informada 969

O segmento das bebidas de base vegetal tem conhecido um rápido crescimento no mercado português, muito devido à sua crescente popularidade como alternativa ao leite de vaca, atraindo consumidores que procuram opções sem lactose, vegetarianas ou com um menor impacto ambiental. Variedades como a soja, aveia, arroz, coco e amêndoa estão cada vez mais presentes nas prateleiras dos supermercados e no dia a dia dos consumidores.

Uma das razões para o rápido crescimento deste mercado relaciona-se com a perceção que os consumidores têm de que estes produtos são escolhas mais nutritivas e saudáveis quando comparadas com o leite de vaca.

O padrão alimentar vegetariano engloba a presença de diferentes tipos de produtos alimentares, tendo em conta os alimentos que os vegetarianos incluem e excluem da sua dieta. Apesar de poder ser considerada uma opção nutricionalmente adequada, quando bem planeada, o equilíbrio nutricional pode ser comprometido sempre que algum dos grupos alimentares seja regularmente omitido da dieta, como é o caso do leite. Conhecer o perfil nutricional das bebidas de base vegetal permite ao consumidor um planeamento alimentar mais adequado.

Dados obtidos num estudo laboratorial recentemente desenvolvido no Departamento de Alimentação e Nutrição, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, mostraram que as bebidas vegetais têm, geralmente, valores calóricos e de gordura saturada mais baixos do que o leite de vaca.

No que diz respeito à energia, as bebidas de coco apresentaram o valor calórico mais baixo e as de arroz o mais elevado. Em relação à gordura, estas últimas apresentaram o teor mais baixo de gordura total, em comparação com as restantes, sendo as bebidas de soja analisadas as que apresentaram um teor de gordura mais elevado do que o do leite. Relativamente aos ácidos gordos saturados, o teor mais elevado foi encontrado nas bebidas de coco.

No respeitante às proteínas, a bebida de soja tem um teor semelhante ao do leite, enquanto outras bebidas vegetais, como a de arroz e a de coco, possuem um teor significativamente mais baixo.

Outro aspeto a ter em conta é a presença de açúcares. As bebidas de arroz e de aveia, mesmo não tendo adição de açúcares, continuam a ter na sua composição um teor de açúcar muito elevado devido ao amido naturalmente presente. As bebidas de amêndoa apresentaram o teor mais baixo de açúcares.

Contudo, o perfil nutricional destas bebidas não depende só da matéria-prima (fonte vegetal), metodologia e processamento, mas também da sua fortificação (com micronutrientes e vitaminas, como o cálcio e as vitaminas B2, B12 e D).

A partir da análise dos dados da rotulagem, verificou-se que, de todas as vitaminas, a vitamina D foi a que teve uma maior frequência de fortificação, seguida das vitaminas B12 e B2. O mineral que apresentou a maior frequência de fortificação foi o cálcio. O iodo e o ferro apresentaram as frequências mais baixas de todos os minerais e vitaminas avaliados.

Para atender ao propósito de evitar o consumo de lactose, reduzir a ingestão de gorduras saturadas ou explorar novos sabores, de entre as bebidas vegetais estudadas, as de soja destacam-se como a alternativa mais equilibrada em termos nutricionais, designadamente, devido ao seu teor proteico e à fortificação frequente com cálcio e vitamina D.

A escolha do melhor substituto do leite dependerá sempre das necessidades e preferências individuais do consumidor, tendo sempre em consideração que a diversidade e quantidade de nutrientes presentes nas bebidas vegetais não as enquadra como equivalentes nutricionais do leite.

Filipa Nunes Matias
Engenheira Alimentar, Mestre em Qualidade Alimentar e Saúde
Laboratório de Química do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge

Daniela Barros
Licenciada em Biologia e Mestre em Biologia Humana e Ambiente