O Banco de Leite Humano do Norte, inaugurado há um ano no Hospital de São João, alimentou 55 bebés prematuros de várias unidades neonatais do Grande Porto e quer expandir-se a toda a região, disse esta segunda-feira (25) um dos responsáveis.
“Fazemos um balanço muito positivo que reforça a energia que alavancou este projeto. O Banco de Leite Humano do Norte conseguiu chegar a todas as unidades neonatais do Grande Porto e o grande objetivo é chegar aos bebés de risco de todo o Norte. Para o recém-nascido, este leite tem um valor insubstituível”, disse à Lusa o diretor do serviço de neonatologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Henrique Soares.
No espaço de um ano, o Banco de Leite Humano do Norte recebeu cerca de 250 litros de leite de 66 dadoras. Podem doar leite, as mães de bebés saudáveis com menos de seis meses, bastando que manifestem esse desejo por ‘email’.
Em declarações à agência Lusa, Henrique Soares destacou a “generosidade” das dadoras, apontando que o número alcançado correspondeu às necessidades e estimando que, “à medida que cresceram as solicitações de outras instituições, isso trará outras dadoras de outras localizações”.
Para já, o Banco de Leite Humano do Norte alimentou 40 bebés do CHUSJ e 15 de outras unidades neonatais, desde a Unidade de Saúde Local de Matosinhos, ao Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
Sublinhando que “o leite materno da própria mãe é, do ponto de vista nutricional, um bem insubstituível” e que “o primeiro objetivo é que cada mãe alimente o seu bebé”, Henrique Soares explicou que, quando “na prática isso não é possível, então o leite de dadora pasteurizado é determinante”.
“Mantém muitas características do leite materno e vai evitar algumas complicações que são graves, e até podem ser mortais, em recém-nascidos de alto risco, nomeadamente nos grandes prematuros. Quando comparo um bebé grande prematuro, um bebé com 1.000 gramas, alimentado com leite de dadora em comparação com leite de fórmula, a redução de risco de enterocolite necrosante é muito grande”, disse.
A enterocolite necrosante é uma doença intestinal que tem associada muita morbilidade e muita mortalidade, sendo, disse o médico do CHUSJ, “o pesadelo” dos clínicos de unidades neonatais.
A experiência mostra que o recurso a leite humano de dadora, isto só na ausência do leite da própria mãe, diminui muito o risco de doenças intestinais no grande pré-termo.
“E temos estudos que dizem que estes bebés atingem mais rapidamente, do que os bebés alimentados com fórmula, a alimentação oral total e ter alta um bocadinho mais cedo”, apontou Henrique Soares, enquanto a coordenadora técnica deste projeto, a nutricionista Diana Silva, apelida de “ouro líquido” o leite materno de dadora.
“As propriedades do leite materno, neste caso leite de dadoras pasteurizado, são muito superiores ao de leite de fórmula. Podemos personalizar este leite às necessidades do bebé, fortificando-o se for o caso. As necessidades de um bebé não são iguais às de outro bebé. Pode-se personalizar conforme as necessidades ou tornando-o mais rico em proteínas ou em valor total energético (calorias)”, acrescentou.
À Lusa, a coordenadora descreveu o processo de recolha e preparação do leite como um processo “rigoroso”, que tem início em casa das dadoras que recolhem o leite em recipientes esterilizados e disponibilizados pelo hospital e têm nos seus congeladores um indicativo que permite verificar se a temperatura foi ou não interrompida.
Segue-se o transporte “em arcas térmicas especiais”, subcontratado a “uma empresa especializada”, que “tem de garantir que a rede de frio que não é interrompida”. Depois, no banco de leite, segue-se a análise nutricional e a pasteurização.
O reforço da amamentação, outros dos objetivos avançados pelo CHUSJ quando inaugurou o primeiro Banco de Leite Humano do Norte e o segundo do país, também “está a ser alcançado”.