AVC: Um desafio histórico para a saúde pública, que afeta 25 mil portugueses por ano 114

● O AVC é a das principais causas de incapacidade no nosso país, afetando cerca de 25 mil portugueses por ano.(1) Em Portugal, a cada hora três pessoas têm um AVC.(2)

● Só em 2022, as doenças cerebrovasculares (AVC) foram responsáveis por quase 10 000 óbitos, o que representou 7,7% do total de óbitos no nosso país.(3)

● O AVC isquémico é o mais frequente, representando cerca de 80 a 85% dos casos anuais.(4)

24 de outubro de 2024 – No âmbito do Dia Mundial do AVC (29 de outubro), alertamos os portugueses para a importância de saberem identificar os sinais de alerta desta doença cerebrovascular, que afeta cerca 25 mil portugueses por ano, e de agir rapidamente, ligando para o 112 para ser ativada a Via Verde AVC pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). (1)

O AVC continua a ser a das principais causas de morte e de incapacidade em Portugal (1), atingindo três pessoas por hora. (2) Só em 2022, as doenças cerebrovasculares foram responsáveis por 9616 óbitos, o que representou 7,7% do total de óbitos no nosso país. (3)

João Sargento Freitas, médico neurologista, explica que: “O AVC isquémico, que representa cerca de 80 a 85% dos casos anuais4, ocorre quando há uma obstrução de uma artéria cerebral, geralmente causada por um coágulo sanguíneo (trombo) ou por aterosclerose (acumulação de placas de gordura). Esta obstrução impede o fluxo sanguíneo para uma área do cérebro, privando-a de oxigénio e nutrientes, o que resultar em danos neurológicos.”

Nas primeiras horas após um AVC isquémico é emergente chegar ao hospital, para dois tratamentos principais: a trombólise endovenosa e a trombectomia mecânica, também conhecida como tratamento endovascular. A trombectomia mecânica é uma técnica minimamente invasiva, que utiliza um cateter para desobstruir mecanicamente a artéria afetada. O neurorradiologista Ricardo Veiga destaca que este tratamento “é extremamente eficaz e seguro, oferecendo uma maior taxa de revascularização, melhores resultados clínicos e uma janela de tratamento alargada até 24 horas, dependendo de alguns fatores.”

Apesar das vantagens, nem todas os doentes com AVC são elegíveis para a trombectomia mecânica. “A decisão de realizar este procedimento é complexa e deve ser tomada por uma equipa médica, considerando cada caso individualmente”, acrescenta Bruno Rodrigues, médico neurologista.
Depois do tratamento de fase aguda é essencial determinar o mecanismo exato que causou o AVC, sendo o período de internamento numa Unidade de AVC crítico para este objetivo, como realça o neurologista Bruno Rodrigues.

As duas causas mais frequentes do AVC isquémico são as causas cardio-embólicas, que muitas vezes resultam de arritmias cardíacas, como a fibrilhação auricular (FA), e a formação de placas de aterosclerose (colesterol) nas artérias cerebrais ou próximas. O AVC pode também ser causado por doenças das pequenas artérias cerebrais, para as quais a hipertensão arterial é o principal fator de risco, como as malformações cardíacas, doenças do sangue e outras alterações sistémicas.

O diagnóstico de algumas destas doenças nem sempre é fácil. A deteção precoce permite iniciar o tratamento com medicamentos anticoagulantes, prevenindo a formação de novos coágulos e reduzindo o risco de um novo AVC. Em alguns casos, a monitorização do ritmo cardíaco é fundamental, existindo atualmente dispositivos implantáveis de monitorização cardíaca de longa duração para detetar episódios assintomáticos de FA, com elevada acuidade diagnóstica.

Luís Elvas, médico cardiologista, refere que: “Um destes dispositivos é o registador de eventos implantável, que deteta a atividade elétrica do coração durante um longo período, geralmente alguns anos. Este dispositivo pode ser programado para registar automaticamente eventos, como batimentos cardíacos rápidos ou lentos, ou ser ativado pelo doente quando sentir sintomas. Os dados registados são posteriormente analisados pelo médico, ajudando a diagnosticar com precisão e a determinar o melhor tratamento.”

É fundamental consciencializar a população sobre os sinais de alerta. Relembramos a importância de estar atento aos 3F: Fala (dificuldade em falar), Face (assimetria facial vulgarmente denominado como ‘boca de lado’) e Força (perda de força num dos braços). Caso se manifeste um destes sintomas, deve ligar imediatamente para o 112, ativando assim a Via Verde AVC e diminuindo até 50% do risco de morte ou de incapacidade. (5)

Referências:
(1) (2) Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (2023). O AVC é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Disponível em: https://www.spmi.pt/o-avc-e-a-principal-causa-de-morte-e-incapacidade-em-portugal/. [Consultado em outubro de 2024].

(3) Instituto Nacional de Estatística (2024). Causes of Death. Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=646027025&DESTAQUEStema=55538&DESTAQUESmodo=2. [Consultado em outubro de 2024].

(4) Lusíadas Saúde (2024). AVC: reconhecer sintomas e atuar. Disponível em: https://www.lusiadas.pt/blog/doencas/sintomas-tratamentos/avc-reconhecer-sintomas-atuar-0. [Consultado em outubro de 2024].

(5) Serviço Nacional de Saúde (2021). Acidente Vascular Cerebral. Disponível em: https://www.sns.gov.pt/noticias/2021/11/02/acidente-vascular-cerebral/. [Consultado em outubro de 2024].