Atualidades em Ciência 855

A resposta inflamatória pode ser considerada como um processo protetor no sentido em que é essencial para garantir a sobrevivência dos organismos, assegurando a defesa contra agentes estranhos, como por exemplo bactérias, e permitindo ainda a recuperação face a células ou tecido alterado.

Simultaneamente, a inflamação destrói o organismo estranho e aciona mecanismos importantes de reparação.

Existem dois tipos de inflamação, a aguda, de curta duração e de rápida resolução e a inflamação crónica, que pode ser consequência de uma inflamação aguda ou ter um início insidioso, associada a uma resposta de baixo grau e sem as manifestações clássicas da reação inflamatória aguda.

A este último tipo, a inflamação crónica de baixo grau, tem sido dada muita importância por estar relacionada com diversas patologias como a obesidade, o cancro, a diabetes tipo 2, muitas vezes por estabelecer-se como causa ou consequência. Assim, o controlo deste tipo de inflamação assume uma relevância particular no contexto quer de doença quer de prevenção. Neste sentido, a dieta, ou componentes da dieta com impacto na inflamação aparecem como possíveis alvos para intervenção.

Os polifenóis, fitoquímicos produzidos como resultados do metabolismo secundário das plantas, são moléculas quimicamente muito variadas, mas que têm revelado um grande potencial anti-inflamatório, quer em modelos in vitro quer em modelos in vivo. A inibição da expressão da COX-2 e consequentemente da biossíntese de eicosanóides inflamatórios, a supressão da expressão de citocinas pró-inflamatórias, a inibição do NFκ-B, bem como a diminuição dos níveis de LPS circulantes, são alguns dos mecanismos anti-inflamatórios atribuídos a estes compostos, e que poderão contribuir para uma diminuição da inflamação crónica e consequente melhoria das morbilidades associadas.

Apesar da evidência científica ainda não estar muito consolidada sobre o efeito dos polifenóis no aparecimento de doença associada a inflamação crónica de baixo grau, uma dieta variada e equilibrada, com a ingestão de horto-frutícolas e outros alimentos ricos em polifenóis está desde há algum tempo comprovadamente associada a um menor risco de desenvolvimento de doença crónica.

Recentemente foi divulgada a nova roda dos alimentos, que se foca exatamente no padrão de dieta mediterrânica e que assenta, entre outras premissas, no consumo de azeite, vinho tinto, fruta e frutos secos, alimentos que são importantes fontes de polifenóis de diferentes classes.

Ainda há um longo caminho a percorrer até existir evidência acerca dos mecanismos e do real efeito do consumo destes compostos (sob a forma de suplemento ou como parte integrante da alimentação) na modulação da resposta inflamatória, mas certamente encontram-se no topo dos potenciais candidatos para mediar este processo.

Ana Faria,
Investigadora REQUIMTE/LAQV e ProNutri, CINTESIS