Tratamento da obesidade: que plano alimentar? O que leva a um melhor controlo metabólico 2218

As recomendações para o tratamento da obesidade recomendam que indivíduos que beneficiem da perda de peso sejam aconselhados a participar numa intervenção integrada nos estilos de vida (alimentação, atividade física e terapia comportamental) por, pelo menos, 6 meses.
Uma parte integrante do tratamento da obesidade deverá passar por um plano alimentar adequado. Atualmente existem diversas abordagens possíveis, sendo que a adesão ao plano prescrito é uma premissa fundamental. Por outras palavras, existem várias formas de chegar ao mesmo fim, deve-se escolher aquela que será mantida de uma forma mais fácil e, por isso, mais duradoura. A redução energética também é uma premissa importante, a par da adesão à terapêutica; isto porque para haver uma perda efetiva de peso, é necessário um balanço energético negativo.

Plano alimentar “clássico”
A abordagem clássica de um plano alimentar hipoenergético passa por uma redução quantitativa da energia de uma forma proporcional em todos os macronutrientes. Outras estratégias têm surgido como possíveis alternativas à abordagem clássica, das quais se destacam quatro opções.

As dietas hiperproteicas
A prescrição de uma quantidade de proteína ligeiramente superior (que não é sinónimo de uma alimentação exclusivamente proteica) parece ser uma abordagem interessante em contexto de perda de peso. As dietas hiperproteicas (>1,05 g/kg/dia, até 30 % do valor energético total) parecem ser metabolicamente vantajosas e têm sido associadas a um favorecimento da perda de massa gorda e menores perdas, e até manutenção, da massa muscular. As vantagens desta medida prendem-se, essencialmente, com o papel saciante e termogénico associado à proteína.

Jejum intermitente
Outra estratégia bastante falada nos últimos tempos é o jejum intermitente. Esta estratégia poderá ter várias abordagens, nomeadamente a restrição energética intermitente, que consiste em 5 dias de ingestão habitual alternados com 2 dias (não consecutivos) de ingestão entre 20 a 25 % das necessidades energéticas diárias, e a alimentação com restrição de tempo, em que se restringe a ingestão alimentar durante um determinado período de tempo, que se sugere ser no período noturno (>11 h de jejum). Parece que estes regimes de jejum conseguem influenciar a regulação metabólica através de efeitos sobre a biologia circadiana, a microbiota intestinal e comportamentos de estilo de vida modificáveis. Com esta estratégia, os resultados de perda de peso e de massa gorda têm sido sobreponíveis aos modelos tradicionais de restrição energética.

Planos alimentares de muito baixo valor energético
Uma terceira opção passa por planos alimentares de muito baixo valor energético (<800 kcal/dia), que poderão ser utlizados na prática clínica, mas sempre com uma supervisão apertada e como parte integrante de um plano estruturado e abrangente. A sua utilização deverá ser limitada a situações específicas e por curtos períodos de tempo, uma vez que poderão levar a deficiências em micronutrientes que poderá afetar o estado nutricional e comprometer a perda de peso.

Dietas cetogénicas
A quarta e última estratégia é a utilização de dietas cetogénicas (<50 g de hidratos de carbono/dia, que corresponde a cerca de 5 % do valor energético total). O teor em proteína deverá ser entre 1,2 a 1,5 g/kg/dia para evitar a gliconeogénese. Este tipo de dieta parece ter efeitos positivos sobre a redução do apetite, possivelmente pelo efeito saciante da proteína, efeitos nas hormonas relacionadas com o controlo do apetite (grelina e leptina) e por uma supressão direta do apetite pelos corpos cetónicos. Apesar deste tipo de dieta conseguir induzir perda de peso é de difícil adesão. Por essa razão, deverá ser apenas utilizada em situações muito particulares.

No entanto, poucos estudos mostraram diferenças significativas na perda de peso, a longo prazo, de acordo com a composição em macronutrientes prescrita na dieta.
Em conclusão, mais do que a perda de peso, devem ser considerados os fatores de risco cardiometabólicos de um indivíduo, as suas preferências alimentares, e a capacidade de aderir à terapêutica na escolha da abordagem terapêutica a implementar.

Diana Teixeira e Mónica Sousa,
Professoras de Nutrição e Metabolismo, NOVA Medical School|Faculdade de Ciências Médicas, UNL; Unidade Universitária de “Lifestyle Medicine” da José de Mello Saúde by NOVA Medical School e Investigadoras ProNutri, CINTESIS