A neuroinflamação é uma condição subjacente às doenças neurodegenerativas mas também às doenças neuropsiquiátricas como a depressão e a ansiedade. As propriedades neuroprotectoras dos frutos vermelhos devem-se sobretudo à sua ação anti-inflamatória. Não obstante, estudos recentes do nosso grupo de investigação mostraram que as antocianinas, uma classe particular de flavonoides que está presente nos frutos vermelhos e no vinho tinto, podem também interferir no metabolismo do triptofano. Enquanto precursor da serotonina, o triptofano e o seu metabolismo têm especial relevância na depressão. O ácido quinurénico é um metabolito do triptofano implicado na excitação do sistema nervoso central, com propriedades anti-inflamatórias. Assim, é interessante verificar que a razão triptofano/ácido quinurénico está diminuída na depressão mas que o consumo de antocianinas equivalente a uma porção de 100 g de amora por dia aumenta as concentrações deste metabolito no sangue por intermédio das alterações provocadas no microbiota intestinal. Os psicobióticos são microrganismos vivos que, quando ingeridos em quantidades adequadas, conferem benefícios para a saúde mental. Esta terminologia abrange também os prebióticos que estimulam o crescimento desses microrganismos. Assim, as antocianinas, pelos mecanismos anteriormente descritos, podem atuar como psicobióticos. Esta nova classe de psicotrópicos surge com interesse no tratamento de doenças como a ansiedade e a depressão, reforçando a atenção que deve ser dada à importância da alimentação e da sua relação com o microbiota nas doenças neuropsiquiátricas. A evidência científica mostra que, de facto, a alimentação tem um papel fundamental, não só na prevenção, mas também no tratamento destas doenças. Para além dos psicobióticos, existem vários nutrientes como o magnésio, o ácido fólico, os ómega-3 (EPA e DHA) e a vitamina D que melhoram o humor, atenuam a ansiedade e a depressão e melhoram a capacidade mental em doentes com Alzheimer. A intervenção nutricional não pode ser descuidada nestes casos. Para isso, é importante que todos os profissionais de saúde, não só nutricionistas, estejam conscientes da relação existente entre alimentação, inflamação e doença mental. O estado da nossa saúde mental pode depender disso! Cláudia Marques, |