Vários são os estudos que ultimamente descrevem as interações que o microbiota estabelece com o sistema imunitário, permitindo que este tenha emergido como um fator relevante na fisiopatologia das artropatias inflamatórias, entre as quais estão as espondilartrites. As espondilartrites apesar de serem desconhecidas para grande parte das pessoas atingem cerca de 50 mil portugueses. Estas doenças caraterizam-se por uma forte associação com o gene HLA B27, que clinicamente se traduz por artrite axial, nas articulações sacro-ilíacas e coluna vertebral, e/ou periférica, dactilite e entesite. Nestes doentes a inflamação articular parece desenvolver-se em paralelo com a inflamação intestinal. O desequilíbrio do microbiota e diminuição da diversidade microbiana, disbiose verificada, ao interferir com a resposta imunológica do hospedeiro poderá induzir a mudança de um ambiente anti- para pró- inflamatório. Para além da interação direta com o sistema imunitário, os mecanismos subjacentes à relação entre o microbiota e as espondiloartrites passam pelo aumento da permeabilidade intestinal e mimetismo molecular, que se concretiza na ligação de anticorpos específicos não só aos microrganismos patogénicos, como a Klebsiella, bactéria gram-negativo, como a antigénios do hospedeiro, potenciando a inflamação e destruição tecidular. Neste contexto, o lipolissacarídeo (LPS), cujos níveis plasmáticos estão aumentados nestes doentes, característico da parede celular das bactérias gram-negativo e endotoxina que desencadeia a libertação de citocinas pró-inflamatórias, como o TGF-β e a interleucina 6, assume importância no desenvolvimento das espondiloartrites. Estudos apontam para que a alimentação com quantidade reduzida de amido leva à diminuição do crescimento de Klebsiella, benéfica para estes doentes, manifestada pela diminuição do consumo de anti-inflamatórios. O aumento do consumo de polifenóis e ácidos gordos n-3 também surge como ser uma potencial intervenção alimentar, dado as propriedades anti-inflamatórias destes. Contudo está por esclarecer o impacto que terão no índice de atividade da doença. Os probióticos exercem efeitos benéficos ao inibir a colonização por microrganismos patogénicos, ao promover o efeito trófico nas células epiteliais e ao estimular o sistema imunitário. Apesar das discrepâncias entre os ensaios clínicos, a evidência existente sugere um impacto positivo por parte das espécies de Lactobacillus spp, naturalmente presentes, nos iogurtes e leites fermentados. Mais uma vez a investigação evidencia o papel determinante que a alimentação, ao participar na modulação do microbiota, pode ter na terapêutica de patologias, como as espondiloartrites, bem como a necessidade de investir na investigação de translação para que sejam confirmadas as hipóteses de abordagens apresentadas e assim serem incorporadas nas respetivas guidelines e aplicadas no contexto clínico. Inês Mota, Nutricionista estagiária (2197NE) |