Classicamente a matriz alimentar, de uma enorme complexidade, é composta por nutrientes e por não-nutrientes. Os nutrientes são classificados como micronutrientes, vitaminas e minerais, e como macronutrientes, as proteínas, os lípidos e os glicidos. Na categoria dos não-nutrientes, temos os fitoquímicos, que por razões várias, não só não são classificados como nutrientes, como não têm atribuídas DRI’s (Dietary Reference Intake). Ainda dentro do grupo dos não-nutrientes existem muitos outros compostos, como os contaminantes dos alimentos que merecem também toda a nossa atenção e preocupação. Os estudos sobre os efeitos benéficos na saúde humana do fitoquímico, luteína, são robustos, sobretudo realçando o papel deste carotenoide na prevenção da DMI (degenerescência da mácula associada à idade), dando o lugar de composto com atividade biológica (composto bioativo). Um composto bioativo é todo aquele que tem outros efeitos que vão para além do suprir as necessidades nutricionais básicas, ou seja tem impacto na saúde, contribuindo para a promoção da saúde e/ou diminuição do risco de doença. A mácula é uma região da retina com funções muito particulares no processamento da visão focada de alta qualidade e visão cromática. Por isto, esta é uma região da retina com particular suscetibilidade oxidativa e de dano celular. A luteína é um composto lipofílico, cujo isómero é a zeoxantina (no organismo interconvertem-se), que acumula-se preferencialmente na mácula. É um composto que existe de forma natural em vegetais/frutos de cor verde, amarela ou laranja, sendo a couve portuguesa e os espinafres, por exemplo, excelentes fontes naturais de luteína. Para os compostos bioativos não tem sido possível o cálculo de DRI. Este facto tem trazido muita preocupação. Com base numa evidência epidemiológica que mostra que quem ingere alimentos ricos em fitoquímicos (como são os hortícolas) tem menor risco de doença crónica não transmissível, tornam-se tentadoras as extrapolações incorretas como, que tais efeitos se devem exclusivamente a um ou outro composto e que, em consequência, se recomende/pratique a ingestão de quantidades excessivas (doses não nutricionais). Sublinha-se o efeito de hormesis para estes compostos. Por outro lado, chama-se à atenção de que o efeito observado do consumo de alimentos (dados epidemiológicos) será sempre o resultado da interação de todos os compostos que constituem a matriz dos alimentos (efeitos de sinergia, adição, potenciação, antagonismo, etc). De acordo com o artigo científico publicado este mês na revista internacional “European Journal of Nutrition”, cumprem-se os 9 critérios necessários para chegar ao cálculo da DRI para a luteína: o composto está identificado/definido; identificação de metodologias para análise quantitativa; base de dados com as quantidades do composto bioativo (luteína) em diferentes fontes alimentares; estudos coorte; ensaios clínicos sobre a sua biocinética; estudos clínicos sobre dose-resposta e eficácia; estudos de segurança; revisões sistemáticas e meta-análises; e, por último, uma plausibilidade biológica. Assim, a existência de DRI vai reforçar a atenção e conhecimento da importância da luteína, do ponto de vista alimentar e na saúde. Este avanço reflete a importância das Ciências da Nutrição, mais do que na prevenção da doença, na promoção da saúde. Conceição Calhau, |