Para além da antibioterapia, a alimentação é o fator com mais impacto na composição do microbiota intestinal. Por outro lado, dado que cada alimento ou substrato pode ser transformado por diferentes vias metabólicas dependendo das bactérias que estão presentes no intestino e das suas funções, o microbiota compromete, por si só, a resposta do hospedeiro à alimentação. Esta interação entre alimentação e microbiota abre uma nova janela de oportunidades para intervenções terapêuticas. Estamos, por isso, perante um novo paradigma: não somos apenas aquilo que comemos mas também, aquilo que as nossas bactérias comem. As alterações na composição do microbiota intestinal são facilmente detetáveis 48 horas após o início das modificações alimentares. Por exemplo, a introdução de uma alimentação rica em gordura e à base de produtos de origem animal (carne, queijo e ovos), modifica abruptamente a composição do microbiota intestinal. A concentração de ácidos biliares aumenta, em reposta à elevada ingestão de gordura, favorecendo o crescimento de microrganismos resistentes e a redução das bactérias sensíveis, como é o caso daquelas que são responsáveis pelo metabolismo de polissacarídeos de origem vegetal. Estas adaptações funcionais resultam numa maior produção de metabolitos derivados das proteínas em detrimento da produção de ácidos gordos de cadeia curta derivados da fermentação dos polissacarídeos não digeríveis. Os efeitos de uma alimentação rica em gordura no microbiota intestinal são sem dúvida ditados pelo tipo de gordura consumida. Enquanto animais alimentados com óleo de peixe apresentam níveis elevados de bactérias lácticas e estão protegidos contra a disfunção metabólica, animais alimentados com banha de porco apresentam um perfil semelhante ao acima descrito. Para além disso, os alimentos de origem animal, especialmente as carnes vermelhas, contêm também grandes quantidades de colina e L-carnitina. Na presença de bactérias que preferem este tipo de substratos, a colina e a L-carnitina são convertidas em trimetilamina. Depois de absorvida, a trimetilamina é, por sua vez, convertida no fígado em óxido de trimetilamina (TMAO), uma molécula pro-aterogénica, cujos níveis plasmáticos são preditores do risco de eventos cardiovasculares adversos major. É importante realçar que a colina está também presente nas lecitinas (E 322), um emulsionante muito utilizado pela indústria alimentar (e por isso presente numa grande variedade de produtos processados) e cujos efeitos no microbiota e na permeabilidade intestinal já foram aqui anteriormente discutidos. Assim, é importante restringir o consumo de alimentos ricos em gordura saturada e de alimentos que tenham na sua constituição aditivos alimentares como os emulsionantes e os adoçantes artificiais ou outros contaminantes (pesticidas e metais pesados), uma vez que estes causam um desequilíbrio na composição do microbiota intestinal e dessa forma, comprometem a resposta do hospedeiro a certo tipo de nutrientes. Cláudia Marques, |