Apenas uma em cada seis crianças até aos dois anos recebe nutrientes suficientes 843

14 de Outubro de 2016

Apenas uma em cada seis crianças com menos de dois anos recebe alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a sua idade, o que deixa as restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis.

A conclusão é de um relatório da agência das Nações Unidas para a infância, a Unicef, hoje divulgado.

«Os bebés e as crianças pequenas têm maior necessidade de nutrientes do que em qualquer outra fase da vida. Mas milhões de crianças pequenas não desenvolvem todo o seu potencial físico e intelectual porque recebem pouca comida e demasiado tarde», disse France Begin, conselheira sénior para os assuntos de Nutrição da Unicef, citada num comunicado da organização.

A responsável alerta que «uma nutrição deficiente numa idade tão tenra causa danos mentais e físicos irreversíveis».

Intitulado “Desde a primeira hora de vida”, o relatório agora divulgado revela um mundo onde uma dieta saudável está fora do alcance da maioria.

Os dados da Unicef mostram que a introdução tardia de alimentos sólidos, o número reduzido de refeições e a falta de variedade de alimentos são práticas generalizadas no mundo, privando as crianças de nutrientes essenciais quando o cérebro, os ossos e o físico deles mais precisam.

Com efeito, embora os alimentos sólidos devam ser introduzidos a partir dos seis meses de idade, um terço de todas as crianças no mundo só começa a comê-los demasiado tarde e um em cada cinco bebés só começa a comer alimentos sólidos após os 11 meses.

Apenas 52% das crianças de entre seis e 23 meses recebem o número mínimo de refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de pelo menos quatro grupos alimentares diferentes.

Entre os seis e os 11 meses, a faixa etária em que a nutrição é mais importante, a situação é ainda mais preocupante: apenas 20% estão a receber alimentos de quatro grupos diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas e minerais.

O relatório da Unicef refere-se também à amamentação, que segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde deveria ser a forma exclusiva de alimentação dos bebés até aos seis meses de idade.

Segundo os dados revelados, apenas 45% dos 140 milhões de bebés que nasceram em 2015 foram amamentados na sua primeira hora de vida, como é recomendado, e três em cada cinco bebés com menos de seis meses não recebem os benefícios da amamentação exclusiva.

De acordo com o relatório, quase metade das crianças em idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças entre os seis e os 11 meses não recebem qualquer tipo de alimento de origem animal.

A Unicef alerta ainda para as desigualdades: Na África subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos agregados familiares mais pobres com idades entre os seis e os 11 meses têm uma dieta minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos agregados mais ricos.

A organização sublinha que a melhoria da nutrição das crianças mais pequenas poderia salvar 100.000 vidas por ano, mas sublinha que as famílias, embora façam o seu melhor com os recursos a que têm acesso, não podem fazer tudo sozinhas.

É precisa a liderança dos governos e os contributos de setores-chave da sociedade para fornecer uma dieta saudável às crianças, pode ler-se no relatório.

Tornar os alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis para as crianças mais pobres exige investimentos mais consistentes e direcionados por parte dos governos e do setor privado.

Transferências em dinheiro ou em géneros para as famílias vulneráveis; programas de diversificação de colheitas; e o enriquecimento de alimentos básicos são essenciais para a melhorar a nutrição das crianças pequenas.

Serviços de saúde comunitários com capacidade para ajudar a ensinar aos cuidadores melhores práticas alimentares, bem como a água e o saneamento adequados – essenciais para a prevenção de doenças diarreicas nas crianças – são igualmente cruciais.

«Não podemos permitir-nos falhar nesta nossa luta para melhorar a nutrição das crianças pequenas. A sua capacidade para crescer, aprender e contribuir para o futuro dos seus países depende disso», concluiu France Begin.