A propósito do Dia Mundial da Obesidade, assinalado a 4 de março, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) alertou para o aumento crescente da obesidade infantil em Portugal. Dados do COSI Portugal (2021/2022), um sistema de vigilância nutricional infantil integrado, estimam que 31,9% das crianças portuguesas têm excesso de peso, sendo que 13,5% destas sofrem de obesidade. A associação relembra ainda que o excesso de peso contribui para 80% dos casos de diabetes.
“Segundo dados da Federação Mundial de Obesidade, prevê-se um aumento de 100% da obesidade infantil entre 2020 e 2035. Temas como o papel do ambiente escolar, o tipo de alimentação disponível e, ainda, o impacto do estigma no desenvolvimento de crianças e jovens devem ser trazidos para a esfera pública para impulsionar uma intervenção urgente nesta área da saúde, contribuindo para reverter as estimativas”, alerta em comunicado Raquel Coelho, pediatra na APDP.
Até 2035, mais de metade da população mundial estará acima do peso ou terá obesidade, estima um relatório da Federação Mundial de Obesidade. O tipo de urbanismo, o ritmo laboral, a gestão de tempo e o stress contribuem para um estilo de vida sedentário, que se alia à oferta alimentar hipercalórica. Os mais jovens acabam por ser afetados, desde muito cedo, por uma sociedade dependente destes fatores.
“Obesidade é uma doença, não é uma escolha de estilo de vida ou falta de força de vontade e resulta da interação de múltiplos fatores em diferentes pessoas, culturas e países. É, por isso, necessário investir no apoio a pessoas, tanto crianças como adultos, que sofrem com a doença e que muitas vezes se inibem de procurar tratamento especializado”, afirma Carolina Neves, endocrinologista na APDP. A responsável explica que é “igualmente importante formar e preparar os profissionais de saúde para tratar a obesidade sem estigmas e com empatia”.
A endocrinologista reforça ainda que “tratar a obesidade não se resume à perda de peso. É necessário um acompanhamento continuado por uma equipa multidisciplinar em todas as fases da vida, uma vez que se trata de uma doença para a qual existe tratamento, mas não cura”. Paralelamente, diz, “urge mudar mentalidades, garantir acessibilidade de tratamento a quem tem a doença e combater o principal fator modificável que promove o aumento da doença, o ambiente obesogénico em que atualmente vivemos”.
A obesidade está na origem de mais de 200 doenças, entre as quais a diabetes, em que o excesso de peso contribui para 80% dos casos, refere a associação. O impacto da obesidade como causa de complicações metabólicas, mecânicas e mentais “requer uma abordagem multidisciplinar e reforça o benefício de estratégias de prevenção e tratamento precoce”.
“O Dia Mundial da Obesidade convida assim à discussão aberta sobre a obesidade e a diversidade, promovendo a reflexão sobre o impacto desta pandemia em várias dimensões. O excesso de peso afeta a diabetes e preocupa-nos a incapacidade de resposta no que diz respeito ao tratamento nestas duas doenças que se relacionam”, conclui José Manuel Boavida. O presidente da APDP garante que a associação procura “diariamente dar resposta às lacunas que ainda existem no nosso país, mas a situação merece uma resposta concertada e que garanta o melhor resultado atualmente possível”.