A propósito do Dia Mundial da Hipertensão Arterial (HTA), que se assinala a 17 de maio, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) alerta para a elevada prevalência da hipertensão arterial em pessoas com diabetes. A associação destaca ainda a importância do papel do doente, que deve medir regularmente a sua tensão arterial (TA) no seu ambiente habitual, na prevenção de complicações associadas a esta patologia.
“A hipertensão arterial é um importante fator de risco cardiovascular, sendo excessivamente prevalente em pessoas com diabetes, mesmo tendo em conta as inúmeras campanhas levadas a cabo pelas diferentes entidades e sociedades científicas. Esta patologia é responsável por cerca de 13% do total das mortes registadas e 4% das incapacidades permanentes”, alerta Pedro Matos, cardiologista na APDP.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de hipertensão na população geral oscila entre os 30 e os 50%, dependendo dos países. Em Portugal, dados do estudo PHYSA – Portuguese HYpertension and SAlt Study da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (que incluiu apenas 10% de pessoas com diabetes) apontam para uma prevalência de 42%. Nas pessoas com diabetes, estes números sobem de forma substancial para valores superiores a 60%.
“Como amostragem de dados do mundo real, fizemos na passada semana um rastreio à população com diabetes que recorreu à APDP para as sua consultas habituais de acompanhamento. Nas 515 pessoas avaliadas, encontrámos 40% com HTA não controlada, se tomarmos o valor de 140/90 como referência. 9% tinham HTA sisto-diastólica. Estes dados confirmam que, mesmo numa população seguida numa instituição diferenciada, as taxas de controlo da TA são claramente insuficientes, o que demonstra a complexidade do tratamento da HTA e a exigência de uma maior proatividade por parte dos profissionais de saúde na implementação do autocontrolo da TA e capacitação nas pessoas com diabetes”, afirma José Manuel Boavida, presidente da APDP.
“Como tal, é fundamental frisar a importância do papel do doente para melhor controlo desta patologia. Todas as pessoas com diabetes devem medir regularmente e no seu ambiente habitual a sua tensão arterial. Os valores-alvo, definidos internacionalmente, podem depois ser afinados com a ajuda do médico assistente, para que sejam escolhidos os melhores fármacos a utilizar, de acordo com as características individuais de cada pessoa”, explica o cardiologista Pedro Matos.
Além da hipertensão, existem ainda outros fatores de risco cardiovascular igualmente frequentes em pessoas com diabetes, como é o caso da dislipidemia (colesterol alto) e da obesidade. O colesterol elevado, especialmente importante para o aparecimento de placas de gordura nas artérias, está também relacionado a médio-longo prazo com os enfartes do miocárdio. Já a hipertensão está particularmente associada a um risco acrescido de acidente vascular cerebral (AVC) e deterioração da função renal.
“Um mau controlo da tensão arterial contribui de forma significativa para complicações major da diabetes que podem ser fatais ou causar incapacidade permanente e prolongada. É por isso crucial explicar à população como controlar a tensão arterial de forma eficaz, através da adoção de um estilo de vida mais saudável, deixando de fumar e limitando o consumo de álcool e sal, e da educação para os valores de pressão arterial desejáveis, que na pessoa com diabetes são inferiores aos da restante população”, explica o cardiologista, acrescentando que “esta é uma patologia extremamente preocupante, porque, segundo o mesmo estudo PHYSA, apenas menos de metade dos hipertensos sabem que o são e só 11% estão controlados”.
Esta realidade pode ter várias causas, como a deficiente perceção das pessoas relativamente à importância da hipertensão no aparecimento de complicações cardiovasculares ou o facto de a considerarem por si só uma complicação da diabetes já instalada. “Cabe aos profissionais de saúde fazer mais para melhorar esta perceção, explicando os riscos de não controlar a tensão arterial e incutir nas pessoas hábitos de autocontrolo regular e selecionando os fármacos adequados”, conclui.
Segundo as mais recentes recomendações da American Diabetes Association, <140/90 mmHg são os valores-alvo de tensão arterial para todos os que têm diabetes. Nalguns grupos, nomeadamente os que têm maior risco cardiovascular ou insuficiência renal crónica em fase avançada, estes alvos devem ser reduzidos para <130/80, de forma a minorar a probabilidade de eventos major. Deve ainda haver o cuidado de evitar hipotensões, oscilações bruscas nos valores e o uso de fármacos com potencial acrescido de efeitos secundários, sendo que o abandono terapêutico pode levar a crises hipertensivas graves, por efeito “rebound”.