Antes e Depois 1966

As fotografias do tipo “antes e depois” são um clássico na publicidade a produtos mágicos para perda de peso ou adelgaçamento. Com mais ou menos charlatanice associada, servem um propósito muito básico: alguém sem credibilidade ou autoridade reconhecida, “demonstra” desta forma que o seu produto é eficaz. No fundo, é uma estratégia para quem não tem outros argumentos. E é precisamente por isso que não deixo de estranhar quando vejo colegas a recorrer à publicação de fotos “antes e depois” para demonstrar os resultados obtidos pelos seus Clientes. Afinal de contas, não é suposto os nutricionistas ajudarem as pessoas a emagrecer? De tão óbvia que é a sua especialidade, não faz muito sentido que um nutricionista tenha de explicar com fotos de “antes e depois” que ir à sua consulta resultará na perda peso…

Assumindo que o objetivo é apenas demonstrar que determinado nutricionista consegue mesmo emagrecer pessoas, há outra questão que o “antes e depois” levanta: o que fazer quando as pessoas não perdem peso? Se os louros são do nutricionista quando a pessoa perde peso, será seu demérito quando um Cliente não consegue emagrecer? Sabemos que o processo de emagrecimento envolve diversas variáveis, nem todas controladas ou dependentes do nutricionista. Nenhum nutricionista tem 100% de sucesso nas suas intervenções e isso não significa, per se, que seja menos bom profissional. Divulgar apenas os casos de sucesso pode ser entendido como gabarolice ou publicidade enganosa, na medida em que se cria a expectativa de resultados iguais aos apresentados, sem poder dar qualquer garantia de que isso venha a acontecer com todas as pessoas.

Deixemos que sejam os Clientes a falar do seu “antes e depois”, se assim o entenderem. Em última análise, foi o seu esforço que conduziu às mudanças de que devem estar orgulhosos! O nutricionista é o treinador, mas o jogador em campo, quem marca golos, é o Cliente! Todos conhecemos o sentimento de missão cumprida quando vemos os resultados dos nossos Clientes. É, provavelmente, das maiores recompensas da profissão de nutricionista. Mas é fundamental manter alguma reserva e modéstia aquando do sucesso dos nossos Clientes. Aliás, o Código Deontológico prevê que os nutricionistas possam anunciar os seus serviços em qualquer meio de comunicação social, na internet ou outro, devendo limitar o anúncio a dados objetivos sobre a sua atividade, com a discrição, rigor e reserva que a profissão da área da saúde exige e abstendo-se de qualquer forma de publicidade subjetiva.

A profissão de nutricionista é relativamente recente e tem lutado esforçadamente para o reconhecimento da sua necessidade e validade junto da sociedade. Fruto de anos de trabalho sério, atualmente ninguém desconhece o que faz um nutricionista e as mais valias da sua intervenção. Abordar o exercício da profissão de forma “milagreira” não se coaduna com a credibilidade que gostamos de ver reconhecida. O “antes e depois” é demasiado simplista para a complexidade de uma intervenção multifatorial, sistematizada e baseada na evidência, como aquela que o nutricionista tem de aplicar.

Rodrigo Abreu
Nutricionista
Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição