Segundo um estudo realizado por investigadores do King’s College de Londres e da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill (EUA), e publicado na revista “Nature Genetics”, foram identificadas oito variantes genéticas associadas à anorexia, e os resultados dos testes indicam que a doença não é apenas um problema psiquiátrico, mas também tem causas metabólicas.
Os cientistas analisaram dados recolhidos no âmbito de um projecto relacionado especificamente com o estudo genético da anorexia nervosa e também pelo grupo de especialistas dedicados a distúrbios alimentares do consórcio de genética psiquiátrica.
Esta investigação foi feita por mais de 100 cientistas e incluiu a análise dos dados de mais de 70 mil indivíduos de 17 países da América do Norte, Europa e a região que inclui a Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e outras pequenas ilhas da parte oriental da Indonésia. Foram analisados os genomas de 16.992 doentes com anorexia nervosa e de 55.525 indivíduos como grupo de controlo.
Esta análise revelou que existem vários traços metabólicos que podem ser associados à doença e confirma que a anorexia nervosa tem correlações genéticas com alguns distúrbios psiquiátricos, tais como perturbações obsessiva-compulsivas, depressões, ansiedade e esquizofrenia.
É uma patologia que afecta mais mulheres do que homens (entre 1 e 2% das mulheres e entre 0,2 e 0,4% dos homens). Os doentes têm uma perda de peso excessiva, vivem com uma imagem corporal totalmente distorcida e um medo intenso de ganhar peso. Sintomas que podem levar à inanição e à morte.
Os cientistas que assinam o artigo publicado defendem que a anorexia nervosa deve passar a ser encarada como uma doença psiquiátrica e metabólica e que a abordagem terapêutica deve ter o novo alvo em conta.
Esta conclusão vem confirmar trabalhos anteriores que tinham já encontrado pontos comuns entre doenças metabólicas e os distúrbios alimentares. No entanto, pensava-se que estes problemas metabólicos eram uma consequência da dieta alimentar e da inanição dos doentes com anorexia alimentar. O novo estudo indica que há certos traços metabólicos que podem estar lá antes da doença se manifestar.
O comunicado de imprensa do King’s College sublinha três conclusões principais. Em primeiro lugar, “a base genética da anorexia nervosa coincide com traços metabólicos (inclusivamente glicémicos), lipídicos (gorduras) e antropométricos (medidas corporais), e o estudo mostra que isso é independente dos efeitos genéticos que influenciam o índice de massa corporal (IMC)”. Em segundo lugar confirmam assinaturas genéticas comuns à anorexia nervosa e outros distúrbios psiquiátricos. Por fim, os factores genéticos que estão associados à anorexia nervosa também influenciam a actividade física, o que “pode explicar a tendência das pessoas com anorexia nervosa para serem muito activas”.
O estudo refere ainda que “tem havido uma incerteza sobre o enquadramento da anorexia nervosa devido à mistura de características físicas e psiquiátricas. Os nossos resultados confirmam essa dualidade e sugerem que a integração de informações metabólicas pode ajudar os médicos a desenvolver melhores maneiras de tratar os distúrbios alimentares”, conclui.