
Artigo complementar ao texto “A alimentação que preserva a saúde do intestino”, publicado na edição de janeiro-fevereiro da revista VIVER SAUDÁVEL.
Dado o impacto que os problemas gastrointestinais podem ter no estado nutricional e também do efeito da alimentação na gestão da doença, é importante que o doente seja acompanhado não só por um especialista em gastrenterologia, como também por uma equipa multidisciplinar na qual o profissional de nutrição é presença essencial.
Como Sara Barreirinhas explica, “o nutricionista pode ajudar a identificar sintomas gastrointestinais e monitorizar se existe uma boa evolução do quadro sintomatológico mediante a dietoterapia” e sempre que tal não se verifica “deve encaminhar o utente para mais investigação clínica junto do médico”. Mas, alerta a especialista, para “que se possa adequar a dietoterapia é necessário não só um diagnóstico, como também o enquadramento completo do historial clínico do utente”, realçando que a intervenção nutricional em qualquer patologia do foro intestinal tem um grande impacto no estado nutricional e na qualidade de vida dos doentes.
Ainda assim, não existe uma abordagem nutricional única para as doenças gastrointestinais e nem sempre é necessária uma dieta restritiva: “Muito pelo contrário, quanto mais inclusiva for a alimentação, maior diversidade bacteriana teremos no microbiota intestinal”, adverte a Diretora Clínica da Nutrisciente®.
Já Patrícia Costa refere que “mesmo que o nutricionista não tenha sido procurado especificamente para tratar o problema intestinal, ao executar uma boa anamnese consegue perceber quando há algum problema intestinal e, dessa forma, fazer o encaminhamento para a gastrenterologia de modo a que sejam realizados exames e se obtenha um diagnóstico por parte do médico”.
Depois, tendo em conta o diagnóstico, assim como o resultado dos exames, o profissional de nutrição “consegue elaborar uma dieta adaptada que conduz à minimização dos sintomas e aumento da qualidade de vida”, acrescenta a nutricionista, frisando que o aconselhamento nutricional deve ser personalizado e individualizado, consoante a condição clínica, as necessidades e as preferências alimentares dos indivíduos.
Dispepsia, quando a digestão é difícil
A má digestão, também chamada de dispepsia, é um dos problemas gástricos mais prevalentes e pode, ou não, estar associada a outras doenças. Caracteriza-se por um conjunto de sintomas digestivos crónicos ou recorrentes centrados na parte superior do abdómen que podem variar de leves a graves.
Geralmente, são experimentados sintomas como “inchaço, arrotos, dor epigástrica, desconforto e saciedade precoce e/ou plenitude pós-pandrial, náuseas e vómitos”, esclarece Patrícia Costa.
No entanto, quando se fala de dispepsia é importante classificá-la em dois tipos principais: orgânica e funcional. Desta forma, “sempre que não há uma doença associada, a dispepsia funcional é considerada um distúrbio do eixo intestino-cérebro, já a dispepsia orgânica está relacionada com alguma patologia existente”, elucida a nutricionista.
Estes problemas podem ser evitados, sobretudo, quando se trata de um quadro de dispepsia funcional e estão associados a estilos de vida e hábitos alimentares desajustados. Neste contexto, afirma Patrícia Costa, o tratamento “inclui mudanças no estilo de vida e alimentação, assim como a realização de psicoterapia e a toma de medicamentos”. Além destas estratégias é igualmente essencial “ter atenção ao peso, o qual se deve encontrar dentro de um índice de massa corporal”, acrescenta.
Especificamente no que diz respeito à alimentação, além de o nutricionista procurar perceber que alimentos dificultam a digestão do paciente, é fundamental “realçar a importância de uma boa mastigação, reduzir as porções alimentares por refeição, aumentando o número de refeições diárias tendo em conta as suas necessidades nutricionais e evitar alimentos gordurosos”. Em contrapartida, é necessário o ajuste do consumo das fontes de gordura de boa qualidade, bem como a redução das fontes de cafeína e bebidas com gás.