Dois novos estudos internacionais mostram que os alimentos ultraprocessados poderão estar relacionados com o desenvolvimento de cancro e morte precoce. Sopas pré-embaladas, molhos, pizza congelada, refeições prontas a consumir, batatas fritas ou bolos. A lista é extensa e ganha agora um novo peso junto da comunidade científica. A nutricionista e assessora técnica da Associação Portuguesa de Nutrição (APN), Bárbara Machado, falou à VIVER SAUDÁVEL sobre as conclusões dos documentos.
De acordo com dois estudos lançados na publicação científica The BMJ, as referidas opções alimentares aumentam significativamente o risco de cancro colorretal nos homens e podem levar a doenças cardíacas e morte precoce em ambos os sexos.
Apesar da OMS ter já comprovado que carnes processas e ultraprocessadas, tais como presunto, bacon, salame, cachorro-quente, carne seca e enlatada, estarem associadas a um maior risco de cancro no intestino em homens e mulheres, o primeiro de dois estudos mostra que todos os tipos de alimentos ultraprocessados desempenham um papel na doença. Os investigadores examinaram as dietas de mais de 200 mil homens e mulheres durante 28 anos, nos EUA, associando o cancro colorretal apenas aos cidadãos do sexo masculino.
“Descobrimos que os homens no quintil mais alto de consumo de alimentos ultraprocessados, comparados aos do quintil mais baixo, tinham um risco 29% superior de desenvolver cancro colorretal”, garantiu o epidemiologista e coautor do estudo, Fang Fang Zhang, à CNN. As razões para estas discrepâncias entre os dois sexos “são ainda desconhecidas, mas podem envolver os diferentes papéis que a obesidade, os hormonas sexuais e as hormonas metabólicas desempenham em homens versus mulheres”, continua o investigador.
O segundo estudo, iniciado em 2005 em Itália, seguiu mais de 22 mil pessoas durante uma dúzia de anos, com o objetivo de avaliar fatores de risco para cancro e doenças cardíacas e cerebrais. Os investigadores compararam alimentos pobres em nutrientes – ricos em açúcar e gorduras saturadas – com alimentos ultraprocessados, sendo que ambos aumentavam o risco de morte precoce, especialmente por doenças cardiovasculares.
Mais de 80% dos alimentos classificados como nutricionalmente pouco saudáveis eram ultraprocessados. “Isso sugere que o aumento do risco de mortalidade não se deve diretamente (ou exclusivamente) à má qualidade nutricional de alguns produtos, mas ao facto de esses alimentos serem na sua maioria ultraprocessados”, diz à CNN a autora do estudo, Marialaura Bonaccio.