De acordo com um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), na Europa, a elevada taxa de aleitamento e a qualidade da oferta alimentar nas escolas fazem do Algarve a região com a menor prevalência de obesidade infantil em Portugal.
De acordo com dados recolhidos em 2019, ao abrigo de um estudo do Sistema Europeu de Vigilância Nutricional Infantil, na região do Algarve, cerca de 10,3% das crianças tem obesidade infantil e 11,5% está num nível próximo da obesidade.
Em declarações à Lusa, a coordenadora regional do estudo indicou que os números podem ser explicados pela elevada taxa de aleitamento materno (92,1%), assim como pela oferta alimentar de “melhor qualidade” nos refeitórios e pela existência de conteúdos de educação alimentar no currículo de todas as escolas.
“Quanto maior for o sucesso no aleitamento materno, maior será o sucesso na prevenção da obesidade infantil, à qual se junta o grau de literacia dos pais, por exemplo”, realçou Teresa Sancho, que coordenou o estudo da OMS europeia no Algarve.
Para a nutricionista, desde o primeiro estudo, em 2008, que o Algarve surgiu com “bons indicadores”, um sucesso que atribuiu a um programa regional de combate à obesidade infantil iniciado em 2006, com a região a ser “pioneira” no combate ao problema.
“Fizemos muita formação com profissionais de saúde familiar e da educação – professores do pré-escolar e do 1.º ciclo -, para que cada um no seu trabalho pudesse influenciar positivamente o estilo de vida das crianças e das famílias”, realçou.
Paralelamente, desde 2004 que existe na região um programa de promoção da qualidade nutricional das refeições escolares em “toda a rede pública do ensino pré-escolar ao secundário”, que avalia “todas as ementas” e aplica as medidas corretoras.
No entanto, apesar da oferta alimentar de “melhor qualidade” nos refeitórios das escolas algarvias, face a outras zonas do país, há ainda algum trabalho “por fazer” nas máquinas de venda automática, assinalou.
Relativamente aos valores da amamentação, explicam-se pelo trabalho feito pelos cantinhos da amamentação desde 2007 que deram um “bom apoio” às dificuldades no aleitamento materno, cujo sucesso se reflete depois na obesidade.
Apesar destes números, a especialista defendeu que é necessário trabalhar melhor, em contexto escolar, a forma como as crianças “se mexem” nos intervalos.
“Algo tão simples como colocar música nos intervalos leva a uma dinâmica de dança e reduzir o tempo de ecrã – telemóveis e televisão -, o que ajuda a reduzir a tendência de aumento do consumo de ecrã”, defendeu.
No entanto, apesar dos bons resultados ao nível da obesidade, o Algarve também é a região que apresenta a maior prevalência de baixo peso no país (3,5%). Esta é a quinta ronda de estudos com o objetivo de avaliar o estado nutricional de crianças do 1.º ciclo do ensino básico, dos seis aos oito anos.
No Algarve, os investigadores avaliaram cerca 523 crianças, num total nacional de 7.096 crianças.