O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Afeganistão, Fran Equiza, alertou esta quinta-feira (18) para a crise infantil que afeta o país, onde se prevê que 2,3 milhões de crianças enfrentem desnutrição aguda este ano.
“Há milhões de crianças afegãs que acordam com fome e vão para a cama com fome. Não têm água limpa para matar a sede. Nem cobertores macios para dormir. Acostumaram-se demasiado a trabalhar em casa, nas ruas, nos campos, em minas e em lojas. Muitas vivem com medo da violência ou do casamento precoce. Muitas estão sobrecarregadas com o peso da responsabilidade adulta. Muitas tiveram a sua educação roubada – a sua única esperança de uma vida melhor”, denunciou Equiza, citado pela Lusa.
Num ‘briefing’ à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, o representante da UNICEF avaliou que a crise infantil no Afeganistão acabou “esquecida”, por se tratar de um país profundamente conturbado, enfrentando catástrofes humanitárias, desastres relacionados ao clima e abusos flagrantes dos direitos humanos.
“É uma crise que está a piorar. Hoje, cerca de 90% dos afegãos estão à beira da pobreza e as crianças suportam o peso disso. Espera-se que 2,3 milhões de crianças enfrentem desnutrição aguda em 2023. 875.000 delas precisam de tratamento para desnutrição aguda severa – uma condição que coloca em risco as suas vidas”, alertou.
Além disso, este ano, cerca de 840.000 mulheres grávidas ou que estão a amamentar provavelmente sofrerão de desnutrição aguda, comprometendo a sua capacidade de dar aos seus filhos o melhor começo de vida, indicou ainda Equiza.
Também o facto de o Afeganistão ser um dos países com mais armas do mundo afeta as crianças afegãs, com dados preliminares partilhados pela UNICEF a sugerirem que, entre janeiro e março deste ano, 134 crianças foram mortas ou mutiladas por engenhos explosivos.
“Essa é a realidade do perigo crescente que as crianças afegãs enfrentam enquanto exploram áreas que antes eram inacessíveis devido aos combates. Muitos dos mortos e mutilados são crianças que recolhiam sucata para vender”, explicou.
“Porque é isso que a pobreza faz. Compele os pais a enviar os filhos para trabalhar – não porque querem, mas porque precisam”, frisou Equiza.
De acordo com a UNICEF, aproximadamente 1,6 milhões de crianças são vítimas de trabalho infantil no Afeganistão.