17 de julho de 2018 A presidente da Sociedade Portuguesa de Neurociências, Isaura Tavares, considerou hoje que o mindfulness, uma abordagem que envolve meditação, controlo da respiração e relaxamento, ajuda os profissionais de saúde a lidar com o stress e ansiedade. A investigação sobre este conceito «tem crescido exponencialmente em todo o mundo» e a sua eficácia «demonstrada em centenas de estudos académicos», disse à agência “Lusa” a docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), a propósito da formação ‘Mindfulness’ em Contextos de Saúde, que decorre a partir de 22 de setembro naquela instituição de ensino superior. Segundo a coordenadora do curso, especialista na área da dor, a evidência científica sugere que os mecanismos neurobiológicos dos indivíduos reagem às técnicas abrangidas por esta abordagem e, consequentemente, influenciando a forma como se reage ao stresse e à dor. O ‘mindfulness’, explicou, «não está relacionado com as terapias alternativas», sendo uma abordagem «baseada em conceitos que se conhecem e que estão bem esclarecidos», envolvendo técnicas como a respiração, a meditação, a alimentação, a consciência corporal e o relaxamento, que «permitem conectar com o momento presente». Esta abordagem «não substitui as terapias convencionais, mas é um excelente complemento, que pode fazer com que as pessoas funcionem melhor, com doses menores de fármacos», salientou. Depois de surgir como um método de intervenção em casos de ansiedade, depressão e de dor crónica, o ‘mindfulness’ tem-se destacado em várias áreas da saúde pela sua eficácia. Isaura Tavares contou que esta abordagem foi introduzida e desenvolvida numa faculdade de medicina dos Estados Unidos, no fim da década de 80, pelas mãos de um investigador «que explorou o conceito para aplicar numa população médica que não encontrava tratamento nos métodos convencionais». Foi depois explorado por outras universidades, sendo a mais conhecida a da Universidade de Oxford (Reino Unido), onde desenvolveu-se uma técnica semelhante a dos Estados Unidos, com maior ênfase na parte cognitiva, conhecida como Terapia Cognitiva baseada no ‘mindfulness’, referiu. Em Inglaterra, indicou a investigadora, estes programas são recomendados pelo Sistema Nacional de Saúde, no qual «os médicos de família são incentivados a convidar alguns doentes depressivos para participar». No curso ‘Mindfulness’ em Contextos de Saúde, que decorre 22 de setembro até 19 de janeiro, na FMUP, os participantes podem desenvolver “uma atitude mais focada no momento atual, de modo a evitar pensamentos ruminativos”, sobre “o que aconteceu no passado e o que vai acontecer no futuro”, fatores que estão, muitas vezes, “associados à depressão”, através de práticas formais e informais. «Está provado que as pessoas que aderem a um programa como este, de treino mental, conseguem estar e funcionar melhor e ter menos hipóteses de uma recaída na depressão», indicou. Direcionada para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde expostos a cenários que podem levar a ‘burnout’ a formação promove as competências necessárias para que os participantes «consigam minimizar o efeito das situações de stress, com as quais têm de lidar no seu dia a dia». «As abordagens farmacológicas muitas vezes falham e as pessoas não têm mais a que recorrer. Ao treinarem o stress e a ansiedade e para conseguirem viver mais no momento atual, as pessoas conseguem lidar melhor com a dor», disse ainda Isaura Tavares. Um dos objetivos futuros é que esta formação, realizada com o apoio de profissionais certificados pelo “Center for Mindfulness” da Universidade de Massachusetts, dos Estados Unidos, seja estendida a estudantes das faculdades de medicina, «uma população bastante stressada e que ganhava muito ao participar numa abordagem deste género», concluiu. |