A visão do FNES sobre o investimento na saúde em Portugal 1583

Nos dias 5 e 6 de março decorreu, em Guimarães, o Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA), no qual foi aprovada a Moção do Fórum Nacional de Estudantes de Saúde (FNES) intitulada “Orçamento do Estado: A necessidade de investir na saúde em Portugal”, um documento estratégico para o qual a Associação Nacional de Estudantes de Nutrição contribuiu ativamente.

O FNES assume-se como uma estrutura nacional que incentiva a cooperação multidisciplinar entre estudantes das várias áreas relacionadas com a saúde e as suas estruturas representativas.

Assim, a sua missão primordial passa pela colaboração na prossecução de objetivos comuns em matérias transversais à atuação de todas as Associações e Federações nos domínios da saúde pública, política educativa, políticas de juventude e políticas de saúde.

Num contexto de falta de investimento na saúde em Portugal, notório pela análise dos Orçamentos do Estado dos últimos anos, a pandemia por covid-19 traduziu-se, igualmente, em repercussões acentuadas ao nível da comunidade estudantil do Ensino Superior. Neste sentido, o FNES considerou imprescindível a apresentação de uma Moção no âmbito do próximo Orçamento do Estado, que englobasse as suas principais áreas de atuação: Saúde e Ensino Superior.

Por um lado, numa visão geral do parco investimento na saúde e conscientes do retorno económico e do impacto ao nível do setor social do aumento desse mesmo investimento, privilegiou-se as seguintes propostas:

  • Promover o investimento nos Cuidados de Saúde Primários, locais por excelência de promoção de saúde e prevenção da doença, através da contratação progressiva de nutricionistas, médicos dentistas e psicólogos.
  • Executar a realização do Inventário Nacional dos Profissionais de Saúde, capaz de averiguar os recursos humanos nas várias profissões da saúde, aplicando as suas conclusões para um melhor planeamento dos recursos humanos e implementação de políticas de saúde que contribuam para este.
  • Garantir a colaboração da rede de Cuidados de Saúde Primários com os mais diversos parceiros e entidades de saúde, tais como cuidados hospitalares, farmácias comunitárias e laboratórios de análises clínicas, reforçando assim uma intervenção multidisciplinar e integrada capaz de melhorar os ganhos em saúde dos doentes.
  • Reconhecer a saúde e a sustentabilidade como fatores indispensáveis a ter em consideração na formulação, implementação e avaliação de qualquer política pública, tendo por base o conceito de One Health e de “Saúde em Todas as Políticas”.

Concomitantemente, os dados dos dois “Levantamentos sobre Estilos de Vida dos(as) Estudantes de Ensino Superior I Adaptação à covid-19” dirigidos à comunidade estudantil durante os confinamentos impostos pela pandemia por covid-19, realizados pelo FNES, foram o reflexo do estado de saúde e estilos de vida deficitários da comunidade estudantil do Ensino Superior. Na tentativa de colmatar estes dados e alocando o investimento traduzindo-se em soluções efetivas, priorizou-se as seguintes propostas:

  • Incentivar o investimento em cuidados de saúde nas Instituições de Ensino Superior (IES), nomeadamente nos Serviços de Ação Social, através do aumento do número e diversidade de consultas de especialidade disponibilizadas e divulgação dos serviços, tendo as IES e AAEE um papel fundamental no acesso a esta informação.
  • Colocar particular foco em proporcionar nas IES gabinetes dedicados à saúde mental, que promovam a realização de consultas de psicologia em espaços de apoio próprio e tendo em consideração a sua localização e acessibilidade, a confidencialidade, a oferta de consultas em videochamada como alternativa, vias de comunicação ágeis para casos de emergência e contacto próximo e permanente com um psiquiatra para os casos que requeiram apoio médico.
  • Estimular o financiamento na área da investigação em saúde em colaboração com as IES, com o objetivo final de produzir conhecimento fundamental para a promoção da saúde da população.
  • Proporcionar as melhores condições para que também estudantes possam participar em projetos de investigação, nomeadamente através de apoio a estudantes na criação de projetos de investigação e de valorização das competências adquiridas em programas de estágio, conferindo-lhes reconhecimento académico.
  • Reconhecer como fundamental o papel das AAEE como agentes de saúde local nas comunidades onde se inserem, sensibilizando os estudantes, não só para temáticas relevantes, como adotando medidas que visem a promoção de saúde nas atividades que dinamizam.
  • Garantir o envolvimento e auscultação das AAEE no debate público e nas decisões políticas.

Em suma, o FNES, com a apresentação desta Moção em sede de ENDA, teve em vista dar mais um passo no sentido da promoção do bem-estar, da qualidade de vida e do aumento dos ganhos em saúde, nomeadamente devido às consequências da pandemia, tendo especial foco na comunidade estudantil do Ensino Superior.

Ana Raquel Branco e Leonor Pinto
Presidente e Vogal da Direção da ANEN – Associação Nacional de Estudantes de Nutrição