A pergunta ecoa pelo consultório.
Segue-se um momento de silêncio ou um suspiro. Outras vezes, a resposta: “Sabe qual é o problema? O problema é que eu fumo porque gosto!”.
Será realmente assim? Gostará o fumador da sua dependência? Estará apaixonado pelo seu raptor?
O tabaco é companhia frequente dos tempos mortos de espera. Acompanha os cafés, as refeições e as pausas no meio dos dias de trabalho. O tabaco é presença assídua nas festas de aniversário e nos jantares com amigos. O tabaco é cúmplice da fuga a momentos de tensão. Que fumador nunca saiu dum momento menos agradável dizendo “Vou só lá fora fumar um cigarro.”?
O tabaco ocupa as mãos e distrai a mente, mas acrescenta problemas e não traz soluções.
Gostará o fumador do tabaco ou gostará dos momentos a que o associa?
“O problema não é gostar. O problema é o tabaco.”
O problema é gostar da vida e estar-se refém de uma droga que a encurta e provoca doença.
“Mas que doença Dra.?”
“Olhe (suspiro eu agora), todas… literalmente da ponta da cabeça à ponta dos pés!”
“Ah eu sei, eu sei isso tudo, mas agora é um momento difícil, mudei de trabalho, muito stress!”
Existirão nas nossas vidas momentos totalmente isentos de preocupação ou stress?
A partir do momento em que decidimos ser não fumadores deixaremos de ter altos e baixos? A vida será diferente se deixarmos de fumar? Sim. Para melhor, teremos menos um problema!
“O problema não é o stress. O problema é o tabaco”.
A nicotina contida no tabaco convencional e nos múltiplos novos dispositivos que existem à disposição do consumidor é uma droga psicoactiva que causa elevada dependência. É difícil? Sim. Mas é possível! E há vida depois do tabaco.
“Ponha por escrito uma lista de vantagens e motivações!”
A saúde que se ganha, o dinheiro que se poupa, os dentes em melhor estado, a esposa e o marido, a roupa e o cabelo a cheirar melhor, os filhos e os netos, a pele com melhor aspeto, menos tosse e menos falta de ar, menor probabilidade de cegueira e de impotência sexual.
Escolham todas as que quiserem! As vantagens de deixar de fumar não têm fim e vão se acumulando com o passar do tempo. Por exemplo, ao final de poucas horas há normalização da frequência cardíaca, 2 dias depois o paladar começa a recuperar, ao fim de 1 ano o risco de enfarte cardíaco passa para metade e 10 anos após deixar de fumar o risco de cancro do pulmão é metade do de um fumador.
Existem várias apps gratuitas para colocar no telemóvel que tanto usamos e várias consultas especializadas de apoio, tome uma decisão informada, procure ajuda e deixe de fumar.
O melhor dia para deixar de fumar é hoje.
Inês Henriques Ferreira – AH Medicina Interna – Centro Hospitalar Universitário do Porto – Núcleo de Estudos de Doenças Respiratórias – SPMI